segunda-feira, 21 de julho de 2008

PÓS-MODERNISMO EM CLARICE LISPECTOR CRÔNICA “SE EU FOSSE EU”

Professor: Francesco Marino

Disciplina: Literatura Brasileira III

Acadêmicas: Adriana de S. Negreiros, Delta Brito,

Edna Bueno, Joana da Paz, Thayná Furtado

Data: 16 / 05 / 2008

“Nasci para escrever. Minha Liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo.”

Clarice Lispector. (1926 – 1977)

PÓS-MODERNISMO EM CLARICE LISPECTOR CRÔNICASE EU FOSSE EU

INTRODUÇÃO

Passados mais de 50 anos, pela terceira vez no século XX, as letras brasileiras apresentaram novo ciclo de renovação, tanto na prosa quanto na poesia, expressando o estilo personalista de cada autor.

A partir de 1945, surge uma geração de escritores que inaugura uma nova etapa na historia do Modernismo. Esse período é chamado de pós Modernismo. É difícil descrever todas as correntes literárias contemporâneas, mas, podemos apontar tendências que nos possibilitem a compreender os caminhos trilhados pela prosa desde a segunda metade do século XX.

Essa Característica é bem visível nas obras de Clarice Lispector, a princípio, destaca-se o interesse pela analise psicológica das personagens, onde leva a autora à uma abordagem profunda em razão dos problemas gerados pelas tensões existentes entre o individuo e o contexto social.

CONTEXTO HISTÓRICO

Com o final da Segunda Guerra Mundial, a abertura política que se seguiu propiciou a convocação de eleições diretas. Embora sua situação não fosse das melhores, Getúlio Vargas se opôs à iniciativa, mas, acabou deposto pelas próprias forças conservadoras que o elegeram. Eurico Gaspar Dutra venceu as eleições, e promulgou uma nova Constituição em 1946.

Enquanto isso iniciava a Guerra Fria entre o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco comunista, liderado pela União Soviética. No Brasil, o partido comunista foi cassado, com base num artigo da constituição que proibia a existência de partidos contrários aos direitos de liberdade do homem e contra o pluripartidarismo. Por outro lado, a política liberal de Dutra viu esgotadas as divisas em virtude da exportação dos produtos brasileiros durante a Guerra e, por esta razão a inflação subiu assustadoramente, enquanto o salário não conseguia alcançar o mesmo ritmo.

Getúlio Vargas aproveita esse momento e apoiado por Ademar de Barros, retoma o poder em 1951. A situação do país era gravíssima. A inflação subia cada vez mais e por mais que Getúlio fizesse – tomando decisões impopulares -, de nada adiantou então o descontentamento cresceu e 27 generais do Exército assinaram um documento declarando vago o cargo de presidente, vendo-se pressionado Getúlio Vargas termina se suicidando.

O desafio que se coloca para os escritores das décadas de 40 e 50 é a pesquisa estética e a renovação das formas de expressão literária, tanto na poesia quanto na prosa. O período era muito rico para a prosa brasileira, que conta com a publicação de várias obras significativas, principalmente nos gêneros Conto e Romance, como observados em Clarice Lispector e Ligia Fagundes Telles. O regionalismo fartamente explorado na geração de 30, também é retomado por autores como João Guimarães Rosa e outros que procuram dar um tratamento renovado, como também a representação do espaço urbano pelas crônicas de Rubem Braga, contos de Dalton Trevisan, Clarice Lispector e Ligia Fagundes Telles.

BIOGRAFIA

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia no dia 10 de dezembro de 1925, no conturbado período pós-revolução russa. Sua família era judia e tentava escapar da perseguição a seu povo. Aportaram em Maceió (AL), e lá permaneceram quase três anos. O dia-a-dia era duro. Seu pai, trabalhando como mascate, ficava longe da família. A família movida pelas urgências da necessidade, não se deu ao luxo de crises de adaptação. Até suas identidades foram rapidamente transfigurada por uma familiaridade idiomática. O pai, ‘Pinkouss’, Virou ‘Pedro’; a mãe, ‘Mania’, ‘Marieta’; sua irmã Léia, de 09 anos, tornou-se ‘Elisa’; e Tânia de 5, foi a única a manter o prenome. A própria Clarice era originalmente “Haia”. Dona Marieta foi acometida por uma paralisa o que obrigou a mais velha, Elisa a assumir as responsabilidades domestica.

Depois, transferiram-se para o Recife (PE), onde a autora passou a maior parte da infância e o inicio da adolescência. Nessa cidade apaixonou-se pelos escritos de Monteiro Lobato, um dos primeiros autores a fasciná–la. Em 1935, a família foi para o Rio de Janeiro, e lá Clarice cursou direito na Faculdade Nacional da Universidade do Brasil, neste mesmo período começou a trabalhar dando aulas particulares e fazendo traduções. Depois trabalhou como jornalista e deu início em sua carreira literária. Em 1944 casou com o diplomata Maury Gurgel Valente e foi viver fora do país, porém em 1959 separou-se e retornou ao Rio de Janeiro com os dois filhos, Pedro e Paulo. À 09 de dezembro de 1977, Clarice morreu de câncer.

OBRAS:

Romances.

_Perto do Coração Selvagem (1944)

_O Lustre (1946)

_Cidade Sitiada (1949)

_A Moça no Escuro (1961)

_A paixão Segundo (1961)

_Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres (1969)

_Água Viva “ficção” (1973)

_A hora da Estrela (1977)

CONTOS

_Alguns Contos (1952)

_Laços de Família (1960)

_A Legião Estrangeira (1964)

_Felicidade Clandestina (1971)

_A Limitação da Rosa (1973)

_A Via Crucis da Rosa (1974)

_Onde Estiveste de Noite (1974)

_A Bela e a Fera (1979)

CRONICAS

_Visão de Esplendor (1975)

_Para não Esquecer (1978)

_A Bela e a Fera (1978)

LITERATURA INFANTIL

_ O Mistério do Coelho Pensante (1967)

_A Mulher que Matou os Peixes (1969)

_A Vida Intima de Laura (1974)

_Quase de Verdade (1978)

CARACTERISTICAS GERAIS

A prosa intimista, de investigação psicológica, intensifica-se, ganhando sua maior expressão na obra de Clarice Lispector, com seu estilo único e a sua linguagem - a principio ‘estranha’-, expressa o óbvio. Utiliza-se de metáforas e o seu modo pessoal de estruturar a frase ou o discurso se evidencia a todo o momento, principalmente ao organizar sintaticamente certos aspectos da enunciação, fazendo com que o leitor busque compreender o seu significado e até mesmo se auto-analisar. Observa-se ainda que a autora tinha como técnica a repetição de palavras e frases inteiras como” Se eu fosse eu”. Na verdade Clarice Lispector introduziu em nossa literatura novas técnicas de expressão que obrigavam a uma revisão de critérios avaliativos, quebra a seqüência “começo, meio e fim”, assim como a ordem cronológica ao fazer uso constante de imagens, metáforas, antíteses, paradoxos, símbolos e sonoridades.

OBRA PARA ANÁLISE

Se eu fosse eu

Clarice Lispector

Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase “se eu fosse eu”, que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir.

E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou se ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida. Acho que eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.

Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.

“Se eu fosse eu” parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova do desconhecimento. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.

ANÁLISE DA OBRA

A crônica “Se eu fosse eu” de Clarice Lispector, foi publicada, pela primeira vez, em novembro de 1968. É de caráter psicológico, onde a autora usa o fato externo, onde reflete sobre si mesma e toma consciência do seu próprio eu.

A narrativa é, portanto, na primeira pessoa: “Se eu fosse eu e tivesse um papel importante...”. No desenvolvimento, a autora passa a usar a primeira pessoa do plural, incorporando o leitor ao processo narrativo: A mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida”.

Desde sua primeira obra, “Perto do Coração Selvagem”, percebe-se logo na autora, o esforço em querer atingir as camadas mais profundas da consciência humana, em um mergulho psicológico pouquíssimas vezes tentado em nossa literatura. Em Clarice Lispector se percebe em seus contos e romances, o interesse primordial não se encontra no desenvolvimento do enredo, mas no estudo da expressão que os fatos têm sobre a consciência dos personagens. É uma obra introspectiva, que sonda o interior do ser humano para revelar suas dúvidas e inquietações.

Como podemos observar, um simples fato corriqueiro pode acarretar em inúmeras indagações na autora/narradora. O ponto considerado importante de inicio, passa a ser secundário para dar ênfase maior ao seu próprio “eu”, quando ela indaga a si mesma: “Se eu fosse eu...”, em uma demonstração de que se vive mais de aparências, de convenções sociais pois caso contrario, não seria vista com bons olhos pela sociedade. E quando Clarice faz esses questionamentos, induz o leitor a também se questionar e penetrar no labirinto de sua própria subjetividade e levá-lo a refletir, filosoficamente, sobre sua verdadeira identidade e sobre sua atuação no mundo.

A autora emprega uma linguagem simples e objetiva que mesmo com a interrupção, objetivando atingir o leitor, de modo algum quebra a unidade da narrativa, muito pelo contrario, dá-lhe mais dinamismo, visto que o leitor se vê obrigado a fazer parte se suas propostas.

Quando muda o foco narrativo, que passa da primeira pessoa do singular para a terceira pessoa do plural, contribui para dar ao texto um caráter coloquial, bem mais vivo e natural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ler os textos de Clarisse Lispector é penetrar num mundo entre a palavra e o silêncio, entre o que se diz e o que está implícito ao dizer. Se quiser entender seus textos, deve se interrogar também no silêncio. Como já dizia o russo Chklovski: “a arte provoca um estranhamento em face da realidade”. A viagem pela introspecção psicológica da personagem faz com que o leitor tenha pleno domínio da situação, quebrado pelos limites espaço - temporais que tornam a obra verdadeira de forma que os sentimentos misturam–se. Nesta obra em especifico, a autora retrata que o ser humano vive sobre mascaras, numa sociedade cheia de convenções, que prende o verdadeiro EU, como se a pessoa estivesse interpretando uma personagem e não se mostrando de fato com seus anseios e desejos. Com muita coragem, Clarice assume sua verdadeira essência, sua face, quando chega a assumir que se estivesse inteira, chegaria até a ser presa e convida o leitor a fazer uma auto-avaliação de sua própria essência.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS

ACHCAR, Francisco, ANDRADE, Fernando Teixeira de, SANTANA, Iraci Nogueira. Os livros da FUVESTE – II. São Paulo. Editora SOL, 2005.

OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Literatura sem segredos, volume 13, editora educacional 1ª edição, São Paulo, 2007.

CEREJA, Willian Roberto; MAGALHÃES, Thereza Analia Cochar. Literatura Brasileira: 2º grau.São Paulo: Atual, 1995.

Apostila O novo Telecurso língua e literatura, Globo, 1987.

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INTRODUÇÃO À ESTILÍSTIICA A COMBINAÇÃO DE ENUNCIADOS DE LOCUTORES DIFERENTES

Professora: Mara Regina

Disciplina: Língua Portuguesa V – Estilística

Acadêmicas: Adriana Negreiros, Delta Brito, Edna Bueno, Joana da paz

Data: 24 / 06 / 2008

“Não há utopia verdadeira fora da tensão entre a denúncia de um presente tornando-se cada vez mais intolerável e o anúncio de um futuro a ser criado, construído, política, estética e eticamente, por nós, mulheres e homens”.

Paulo Freire

INTRODUÇÃO À ESTILÍSTICA

A COMBINAÇÃO DE ENUNCIADOS DE LOCUTORES DIFERENTES

APRESENTAÇÃO

De acordo com a autora Nilce Sant’Anna Martins em sua obra Introdução à estilística: a expressividade na língua portuguesa, tema de grande importância que vem se ocupando a Lingüística / Estilística da enunciação e a intertextualidade, do aproveitamento ou citação de enunciados por um falante.

Vários autores têm salientado o fato de um discurso geralmente incluir, de forma explícita ou implícita, perceptível ou velada, palavras, expressões, enunciados tomados a outros discursos. E os estudos sobre a transcrição de enunciados se vão ampliando e aprofundando, como na obra Polifonia textual – la citación en el relato literários, de Graciela Reyes, de 1984, que apresenta considerações valiosas sobre a linguagem literária e analisa minuciosamente os estilos diretos e indiretos da transcrição da fala, dos quais passamos a nos ocupar.

A combinação de enunciados de locutores diferentes - é a possibilidade de um mesmo enunciado ser retransmitido através de uma cadeia de locutores / falantes, é de fundamental importância para o aproveitamento de experiências e conhecimentos das sucessivas gerações.

Constantemente recebemos e transmitimos informações das mais variadas e, na maioria das vezes desconhecemos a sua origem. Nós os falantes nos apropriamos de enunciados alheios, sem mesmo darmos por isso. Precisamente, quando nos referimos a outros locutores / falantes e seus enunciados, podemos utilizar vários processos, apenas mencionando o ato de enunciação ou citando o que foi dito.

Neste trabalho aborda-se-á os seguintes temas: Discurso Direto, Discurso Indireto e Discurso Indireto Livre, em que se buscará sistematizar alguns casos, levantando possibilidades em relato de falas.

1. INTERTEXTUALIDADE

1.1 Conceito

Evidentemente, é um fenômeno que está ligado ao "conhecimento de mundo", que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao produtor e ao receptor de textos. O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.

A Intertextualidade é a competência em leitura e em produção textual, não depende apenas do conhecimento do código lingüístico. Para ler e escrever com proficiência é imprescindível conhecer outros textos, estar imerso nas relações intertextuais, pois um texto é produto de outro texto, nasce de/em outros textos. É verdadeiramente um "diálogo" entre textos. Esse diálogo pressupõe um universo cultural muito amplo e complexo, pois implica na identificação e no reconhecimento de remissões a obras ou a trechos mais ou menos conhecidos.

Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções diferentes que dependem dos textos/contextos em que ela é inserida. A essa relação (que pode ser explícita ou implícita) que se estabelece entre textos dá-se o nome de intertextualidade. Ela influencia decisivamente, como estamos afirmando, o processo de compreensão e de produção de textos.

1.2 A Intertextualidade na pintura

Na pintura tem-se, por exemplo, o quadro do pintor barroco italiano Caravaggio e a fotografia da americana Cindy Sherman na qual quem posa é ela mesma. O quadro de Caravaggio foi pintado no final do século XVI, já o trabalho fotográfico de Cindy Sherman foi produzido quase quatrocentos anos mais tarde. Na foto, Sherman cria o mesmo ambiente e a mesma atmosfera sensual da pintura, reunindo um conjunto de elementos: a coroa de flores na cabeça, o contraste entre claro e escuro, a sensualidade do ombro nu etc. A foto de Sherman é uma recriação do quadro de Caravaggio e, portanto, é um tipo de intertextualidade na pintura.

1.3 A Intertextualidade na publicidade

Na publicidade por exemplo, em um dos anúncios do Bom Bril, o ator se veste e se posiciona como se fosse a Mona Lisa de Leonardo da Vinci e cujo slogan era " Mon Bijou deixa sua roupa uma perfeita obra-prima". Esse enunciado sugere ao leitor que o produto anunciado deixa a roupa bem macia e mais perfumada, ou seja, uma verdadeira obra-prima (se referindo ao quadro de Da Vinci. Nesse caso pode-se dizer que a intertextualidade assume a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, escultura, literatura etc).

1.4Tipos de intertextualidade

Epígrafe - constitui uma escrita introdutória a outra.

Citação - é uma transcrição do texto alheio, marcada por aspas.

Paráfrase - é a reprodução do texto do outro com a palavra do autor. Ela não se confunde com o plágio, pois o autor deixa claro sua intenção e a fonte.

Paródia - é uma forma de apropriação que, em lugar de endossar o modelo retomado, rompe com ele, sutil ou abertamente. Ela perverte o texto anterior, visando à ironia, ou à crítica.

Pastiche - uma recorrência a um gênero, ou seja, obra literária ou artística que imita outra.

Tradução - a tradução está no campo da intertextualidade porque implica recriação de um texto.

Referência – é se reportar a uma pessoa, ou dar informações precisas sobre alguém.

Alusão – é uma breve referência de algo ou de alguém.

2. ATOS DE ENUNCIAÇÃO

O locutor / falante do ato de enunciação que está realizando o falante 1 indica que um outro falante 2, em outro momento, passado ou futuro, produziu ou vai produzir um ato de enunciação 1.

2.1 O ato da enunciação

O ato é indicado por um verbo de elocução (também designado como verbo de dizer – dicendi – elocutivo ou locutório), sem menção do enunciado:

- O Presidente da República falou ontem à nação.

- O Ministro da Educação discursará na abertura do Congresso de Professores, depois de amanhã.

- O Prefeito conversa hoje com os representantes dos grevistas.

2.2 Verbo de elocução e seu complemento

O conteúdo da fala do falante 1, pode ser indicado sumariamente pelo verbo de elocução e seu complemento. Neste caso já temos quase um discurso indireto. É construção muito usada nas manchetes dos jornais, resumindo as notícias que encabeçam:

- O Governador mencionou as propriedades do seu governo.

- O jornalista X criticou as declarações do Prefeito.

- Pesquisador alerta os jovens para os perigos das drogas.

2.3 Relevo ao tema

A voz passiva pode dar relevo ao tema da enunciação:

- Reformas importantes estão sendo discutidas pelos ministros. (agente da passiva)

2.4 Condensação da oração

A oração de predicado verbo-nominal condensa a oração com o verbo elocutivo e a oração do enunciado referido:

- O Secretário da Educação declarou justas as reivindicações dos professores.

3. DISCURSO

O discurso compreende tudo aquilo que o locutor / falante diz ou escreve. É organizado sob a forma direta ou indireta. Os tipos de discurso estão intimamente ligados aos pronomes, por localizarem os seres anonimamente na frase. Por isso, a importância maior de se estudar o discurso está nas três pessoas, que se manifestam através dos pronomes. Eles têm a função de posicionar os seres, ora substituindo-os, ora qualificando-os. A primeira pessoa é quem fala; a segunda, a quem se fala; e a terceira, uma posição distinta da do emissor e da do receptor.

Pessoa Pronomes

1ª (quem fala) eu, me, meu, este

2ª (a quem se fala) tu, te, teu, esse

3ª (longe da 1ª e da 2ª) ele, se, seu, aquele.

3.1 Discurso Direto.

O locutor / falante transcreve o enunciado de outra pessoa (L, F) tal como foi formulado, mantendo todos os seus traços de subjetividade: interjeições, exclamações, blasfêmias, interrogações, ordens, expressões de desejos, enfim sugere-se o enunciado vivo. Se a citação é oral, o falante imita a entonação do citado – ou, como diz Guiraud, ‘delega a ele a sua voz’ (La stylistique, p. 90 – 3). Se é escrita, fica ao leitor o encargo de recriar, em voz alta, ou mentalmente, a dinâmica vocal sugerida pelo texto. No discurso direto o falante 1 é um mero intermediário que se submete a emotividade do falante 2. Diz-se que o discurso direto escrito é objetivo porque cita com fidelidade as próprias palavras de um falante. Quando o citador destaca de um texto alheio um determinado fragmento, a seleção se faz por critérios seus; e um enunciado separado do seu contexto pode assumir diferente valor (cf. D. Maingueneau, Introductions, p. 124). No discurso direto os enunciados do falante 1 e do falante 2 são dois justapostos, porém separados por pontuação própria (dois pontos, travessão, ou aspas), havendo na literatura maior liberdade na apresentação das palavras transcritas. O verbo de elocução, além de introduzir o discurso citado, pode indicar alguma coisa de sua natureza. Sua colocação pode variar: antes, no fim, ou no meio do enunciado reportado. Veja na crônica “Serás Ministro”, de Carlos Drummond de Andrade, que estão exemplificadas as três alternativas:

“- Esse vai ser Ministro – sentenciou o pai logo o garoto nasceu.” [fim]

“- A mulher ia atalhar: ‘- Tonzinho, não foi Antonio de Fátima que a gente combinou?’ Mas era tarde.“ [início]

“- Eu disse não disse? – festejou o pai – Começou a subir.” [meio]

(“De noticias e não notícias faz-se a crônica“, em Poesia e prosa, p.1417 – 8)

3.2 Casos particulares de Discurso Direto

a) A uma oração em que o falante 1 indica um ato de enunciação com o verbo de elocução transitivo e objeto direto segue-se o mesmo enunciado do locutor referido falante 2, sem que seja necessário outro verbo de elocução:

- O candidato X censurou os adversários: “Querem derrotar-nos com a mentira.”

- O pai elogiava o menino: “Este diabinho vai longe!

b) A uma oração em que o falante 1 indica atitude, reação, gestos de falante 2, segue-se a transcrição do enunciado, ficando o verbo de elocução implícito no verbo de reação:

- O chefe indignou-se: “Mas que absurdo!”

- O negociante esfregou as mãos: “O lucro vai ser grande!”

c) A reprodução do discurso se faz numa construção apositiva:

- Lembro-me sempre desta frase de meu pai – “Os problemas aparecem para serem resolvidos.”

d) O enunciado citado é sujeito de uma oração com substantivo indicador de fala e verbo de ligação:

- “O homem é um bípede sem penas” é uma frase de Platão.

e) Omite-se verbo ou substantivo de elocução, indicando-se apenas o locutor, como nos textos teatrais. Os dois pontos substituem o verbo de elocução. Esta construção concisa é freqüente nas manchetes de jornais:

- O Governador: “Não se recorrerá à violência.”

4. O DISCURSO INDIRETO

No discurso indireto (também dito estilo indireto), o emissor falante 1 transcreve enunciação de outra pessoa falante 2, ou dele mesmo, mas proferido em outra enunciação, conservando o seu conteúdo, mas fazendo algumas alterações. Ele faz uma interpretação, que pode ser a síntese do enunciado citado, suprimindo as suas particularidades expressivas, como interjeições, exclamações, orações volitivas, expressões de gírias, ou de língua estrangeira, próprias do locutor citado. O discurso indireto de um é sempre a narração de elocução, com um caráter mais racional. O falante 1 pode dar a impressão de objetividade, mas o enunciado transcrito, despojado da subjetividade do falante 2, fica na dependência da subjetividade do falante 1, que o adapta a seu próprio discurso.

4.1 A caracterização sintática do discurso indireto

Sintaticamente o discurso indireto se caracteriza pela subordinação: a oração subordinante, com verbo de elocução, é complementada por uma oração substantiva, introduzida pela conjunção integrante que, ou, menos frequentemente por uma oração infinitiva:

- O medico disse / que estava cansado.

/ estar cansado.

4.2 Verbo de elocução interrogativo

Se o verbo de locução for interrogativo, tem-se a interrogação indireta com se (comumente classificado como conjunção integrante, mas também considerado partícula de interrogação indireta), ou vocábulo interrogativo (quem, o que, qual, quanto, onde, como, por que, quando):

/ quem o chamara.

- O homem perguntou / o que havia acontecido.

/ qual era a novidade.

/ quanto custava a geladeira.

/ etc.

4.3 Suprimida situação de enunciação no discurso indireto

No discurso indireto devem ser suprimidas as indicações da situação de enunciação feitas por dêiticos. Eles são substituídos por vocábulos próprios para estabelecer relações no próprio contexto lingüístico.

a) A 1ª. Pessoa, a menos que o enunciado seja do próprio locutor, é substituída pela 3ª. Pessoa. Observe como os advérbios de lugar e tempo correspondente ao ato de enunciação, são substituídos:

aqui >

agora > então, naquele momento, na ocasião

hoje > naquele dia

amanhã > no dia seguinte

ontem > na véspera, no dia anterior

b) Também os tempos e modos verbais são passiveis de alteração, se o verbo de elocução estiver no passado:

- o presente > imperfeito

- o futuro do presente ou o presente com valor de futuro > futuro do pretérito

- o perfeito > mais-que-perfeito

- o imperativo > imperfeito do subjuntivo

4.4 Mutação de verbos de acordo com as enunciações

Os verbos ir / vir, levar / trazer também podem ser trocados se o local das duas enunciações não for o mesmo.

Vejamos um exemplo forjado para apresentar um bom numero das transformações do enunciado proferido (do discurso direto) para o discurso indireto, sem nenhuma pretensão e elegância estilística:

- O doente disse: “Eu estou muito satisfeito com os meus amigos que hoje aqui vieram visitar-me.”

- O doente disse que estava muito satisfeito com os seus amigos que naquele dia lá foram

visitá-lo.

a) A 2ª, pessoa do discurso direto, o interlocutor (tu, você, vos), é substituída pela:

Ex: Tu és meu único amigo.

- 1ª, se o interlocutor passar a emissor, reproduzindo o enunciado que lhe foi dirigido;

Ex: Ele me disse que eu era seu único amigo.

- 3ª, se o emissor não for o interlocutor.

Ex: X disse a Y que ele era seu único amigo.

4.5 Oração completiva nominal

A oração que corresponde ao enunciado do falante 1 pode ser subordinada não a um verbo de elocução, mas a um substantivo a ele correspondente, classificando-se como completiva nominal:

Ex: Os deputados comentaram a declaração do Presidente de que o seu ministério está coeso

4.6 Variantes do discurso indireto

Os sinais diacríticos que destacam o discurso direto, normalmente não são usados no discurso indireto, no entanto em caso especiais, o enunciado transcrito ou parte dele pode receber algumas dessas marcas: com a intenção de demonstrar fidelidade dar ênfase ao que foi dito, por ironia ou duvida do citador.

- “O presidente disse que o regime democrático será consolidado”

Variantes:

Neste caso, podemos interpretar as aspas como a intenção de indicar a exatidão do enunciado citado.

a) – O Presidente disse que o regime democrático será consolidado.

Neste outro caso, as aspas podem sugerir que o escritor faz restrições à existência ou autenticidade do regime referido.

b) – O Presidente disse que o regime democrático será consolidado.

Neste ultimo caso pode interpretar-se o uso das aspas como ênfase ou sinal de ironia.

c) – O Presidente disse que o regime democrático será consolidado.

4.7 Citação jornalística de período simples

O enunciado vem com uma preposição ou locução prepositiva de opinião:

- Para o Presidente /

- De acordo com o Presidente // os problemas sociais são prioritários.

- Na opinião do Presidente /

- Ao ver do Presidente /

5. VERBOS DE ELOCUÇÃO

Os verbos de elocução tanto aparecem no discurso direto como no indireto e têm não só uma grande importância por sua função de estabelecer um elo entre enunciados de diferentes enunciações, como também um relevante valor estilístico, por sua variedade e riqueza de matizes semânticos.

5.1 Denominação variável

A sua denominação é também um tanto variável:

- verbos de dizer, declarar, interrogar, ordenar, introdutórios, locutórios

Alem das denominações latinas correspondentes aos diversos tipos de oração:

- verbo dicendi, declarandi, interrogandi, iubendi (de mandar).

Obs: A denominação verbos de elocução ou elocutivos, adotada por Othon Moacir Garcia (Comunicação...) que, pelo seu teor abrangente, parece mais cômoda.

5.2 Diferentes casos de verbos usados como elocutivos

É conveniente observar que os verbos usados como elocutivos podem estar em diferentes casos.

a) Verbos de elocução propriamente ditos:

- São os que têm o significado nuclear de “dizer” e se empregam como elocutivos.

Exemplos: falar, dizer, declarar, afirmar, perguntar, responder, exclamar, informar, jurar, prometer, confessar, ordenar, pedir, aconselhar, etc.

b) Verbos que, pela polissemia, são elocutivos em certos empregos e não em outros:

Exemplos: insinuar, inventar, insistir, tornar, continuar, interromper, etc.

Vejamos os pares de frases:

- O chefe insinuou que o funcionário não era honesto.

- O hábil advogado se insinuou nas esferas governamentais.

- O caixeiro insistia com o freguês: “Esta é a melhor mercadoria da praça.”

- O cientista insistia em sua pesquisa.

c) Verbos que indicam reações afetivas e em muitos empregos absorvem um dizer elítico:

Exemplo: soluçar, gemer, zombar, alegrar-se, aborrecer-se, rir, agredir, esbravejar, etc.

- A mãe soluçava: “Meu pobre filho! Só Deus pode salva-lo.”

- O pai esbravejava: “Este rapaz não cria juízo!”

d) Verbos empregados metaforicamente como elocutivos:

Exemplos: trovejar, desembestar, explodir, papagaiar, etc.

- Isto é impossível! – trovejava o patrão.

- O menino desembestou: - Ótimo! Pegamos o dinheiro, compramos um carro, vamos rodar pelo país todo, gozar as férias...

e) Verbos ouvir e escutar (com elipse de dizer).

- Ouviu que estava sendo procurado pela polícia.

- “De Diadorim... assim ouvi: - Pois dorme, Riobaldo, tudo há de resultar bem...” (G. sertão, p. 41)

f) Verbos que exprimem um processo mental que se associa ao de falar:

Exemplos: pensar, refletir, concluir, lembrar, filosofar, raciocinar, etc.

- O otimista concluiu que nem tudo estava perdido.

- “- A vida é uma caçada contínua – filosofou Emília.” (M. Lobato, A chave do tamanho, em Obras completas, p. 33)

OBS: Se todos os verbos relacionados podem aparecer no discurso direto. Somente uma parte deles (os elocutivos propriamente ditos, ouvir e os de processo mental) se usam no discurso indireto.

5.3 Verbos de elocução e suas particularidades na comunicação e no enunciado

Sendo tão numerosos e de significação finamente matizada, os verbos de elocução podem exprimir incontáveis particularidades da comunicação e do enunciado.

a) Verbos pelos quais o falante 1 indica a comunicação de falante 2 como uma declaração, informação, relato, enfim um enunciado de valor referencial, apresentado com convicção maior ou menor.

- Equivalem a “dizer = traço enfático”:

Exemplos: declarar, comunicar, informar, anunciar, noticiar, revelar;

afirmar, afiançar, assegurar, garantir;

destacar, salientar, frisar; contar, narrar, relatar.

b) Verbos com que o falante 1 com o falante 2 não quis afirmar um fato, mas apenas levantar uma suposição, uma suspeita: insinuar, sugerir, dar a entender.

Exemplos:

c) Verbos que indicam que tanto o falante 1 indica que o falante 2 consideram o fato enunciado como verdadeiro e mau: confessar; verdadeiro e bom ou mau: reconhecer.

- O preso confessou que matou o patrão.

- O rapaz reconheceu / que o professor deu uma nota justa.

/ que não agira bem.

d) Verbos que denotam que o falante 1 não considerava verdadeiro ou valioso aquilo que o falante 2 valoriza: gabar-se, vangloriar-se; pode-se entender também que falante 1 não aprova a falta de modéstia do falante 2.

- O atleta se vangloriava de vencido a competição.

- A moça se gabava de ter muitos namorados.

OBS: O verbo mentir indica que o falante1 considera falso o que o falante 2 apresenta como verdade.

5.4 Verbos considerando uma atividade mental de julgamento ou avaliação

Verbos que o falante 1 considera o enunciado do falante 2 como resultado de uma atividade mental, de um julgamento ou avaliação, sem manifestar se concorda ou não:

Exemplos: pensar, refletir, raciocinar, filosofar, ponderar, arrazoar, argumentar, deduzir, concluir, achar, opinar, alvitrar, obtemperar, julgar, elogiar, louvar.

OBS: Com o verbo sofismar o falante 1 sugere que o falante 2 tem um raciocínio distorcido.

5.5 O falante 1 indica que o falante 2 proferiu com função apelativa

Verbos com que o falante 1 indica que o falante 2 proferiu um enunciado de função apelativa:

- perguntar, interrogar, indagar, inquirir, interpelar.

- pedir, solicitar, requerer, exigir, reclamar, rogar, suplicar.

- chamar, invocar, convidar.

- mandar, ordenar, intimar, impor, comandar, determinar, obrigar.

- aconselhar, recomendar, advertir, exortar, sugerir, avisar, propor.

- repreender, malhar, admoestar, corrigir, increpar, censurar.

5.6 Sinônimos atende a matizes de intensidade da linguagem

A riqueza de sinônimos atende a matizes de intensidade ou formalidade da linguagem.

a) Verbos que o falante 1 indica que o enunciado do falante 2 é uma conseqüência de outro enunciado, do próprio falante 1 ou de um outro falante 3:

- responder, replicar, redargüir, retorquir, tornar, secundar, revidar.

- protestar, contestar, contravir, desdizer, desmentir, negar.

- apoiar, aprovar, concordar.

- completar, acrescentar, ajuntar, inteirar.

b) Verbos que o falante 1 descreve ou sugere o estado emotivo do falante 2, o seu envolvimento emocional com o que diz:

- exclamar, admirar-se, espantar-se, escandalizar-se.

- alegrar-se, rejubilar-se, exultar.

- queixar-se, lamentar, lamuriar-se, gemer, suspirar, lastimar, jeremiar, choramingar, resmungar, arrenegar, rezingar.

- gritar, berrar, esbravejar

- caçoar, gracejar, motejar, debicar

- xingar, insultar, apurar, vaiar

c) Verbos que permitem ao falante 1 indicar o tom ou qualidade de voz do falante 2, com maior valor depreciativo:

- gritar, berrar, rosnar, ringir, roncar, esganiçar, esgoelar, bramar, trovejar, urrar

- murmurar, sussurrar, coxixar, muxoxar

- balbuciar, gaguejar, tartamudear, tatibitatear

d) Verbos auxiliares de aspecto que absorvendo o verbo dizer, indicam o desenvolvimento do processo de enunciação:

- começar, principiar

- continuar, prosseguir

- repetir, teimar, insistir

- terminar, concluir, completar

5.7 verbos de valor diferente conforme a pessoa do presente ou outras formas

Existem verbos que têm valor diferente conforme estejam na 1ª. pessoa do presente do indicativo ou em outras formas.

a) O falante assume um compromisso ou pratica uma ação ao falar.

- Eu juro que o ajudarei.

- Eu te ordeno que saia daqui.

b) O falante relata um enunciado em que alguém assumiu um compromisso ou praticou uma ação.

- Ele jurou que ajudaria o amigo.

- Eu ordenei que ele saísse da sala.

OBS: Estes e outros verbos, como: prometer, comprometer-se, obrigar-se, nomear, declarar, batizar, etc. recebem a denominação de performativos.

c) Verbos performativos usados na 1ª. pessoa do presente, podem implicar em alguma solenidade, alguns deles requerem do falante para praticar o ato de enunciação.

- Eu o nomeio delegado desta cidade! – falou o Meritíssimo Juiz da Comarca.

5.8 Verbos simples numerosos

Vasto o numero de verbos existentes, porém os falantes podem lançar mão de locuções de caráter expressivo, metafórico como:

- deitar falação, deitar ciência, soltar a língua, dar com a língua nos dentes, rasgar o verbo, lançar confete, etc. Guimarães Rosa nos dá exemplos:

- “Mas teve de parar, porque Lalino, respeitosamente erecto, desfreou a catarata:

- Seu Major, faz favor, me desculpe: Demorei a vir, mas foi por causa que não queria chegar aqui com as mãos somenos...” (Sag. p. 98)

- “Seu cumprimento aveludou-se:

- Saúdes, paz, meu garjão delegado...”(Tutaméia, p. 105)

- “Então que um quebrou o ovo do silêncio: ‘- Boi...’ ” (Tutaméia, p. 111)

O narrador as vezes prefere um substantivo que um verbo:

- “ ’Espera, Riobaldo...’ tive o siso da voz dele no ouvido.”(G. sertão, p. 208)

- “Rodaram meio mundo como perdidos na selva e vieram parar aqui. Aqui, neste Cameã, é o que digo – Anastácio respondeu.

- E depois? – a voz de Tonho Beré.” (Adonias Filho, As velhas, p. 57)

6. DISCURSO INDIRETO LIVRE

A variedade de discursos diretos e indiretos, a narrativa de ficção, a partir das últimas décadas do século XIX, utiliza um tipo de discurso que consiste na combinação dos já existentes, misturando valores estilísticos de um e de outro: é o discurso indireto livre, recebeu várias denominações de quem o estudou (discurso velado, direto impropriamente dito, discurso vivido).

6.1 Características gerais do discurso indireto livre

No discurso indireto livre não há subordinação do enunciado transcrito, como no discurso direto, do falante 2 ao enunciado do falante 1; o enunciado da personagem não se prende a um verbo de elocução, e nem é introduzido por conjunção subordinativa. A partícula que, com os seus múltiplos valores, tende a aparecer com muita freqüência, tornando-se algumas vezes incômoda.

As interjeições, exclamações, expressões particulares da personagem citada (gíria, estrangeirismos), interrogações, orações volitivas, todo o TÔNUS afetivo do discurso direto pode ser aproveitado, no entanto, são feitas as transformações verbais e dêiticas exigidas pelo discurso indireto.

6.2 Características de casos de indireto livre

O discurso indireto livre em muitos casos, não deixa claro quem está com a palavra, se é o narrador ou a personagem. Permite distinguir que está sendo relatado é o pensamento da personagem, não do narrador, por mais que este identifique-se com ela. O discurso indireto livre é de cunho acentuadamente psicológico.

6.3 Influências para a credibilidade do discurso indireto livre

Flaubert foi quem primeiro chamou a atenção pelo uso do discurso indireto livre com suas múltiplas virtuosidades, onde viu a possibilidade de atingir o ideal artístico: “O autor, em sua obra, como Deus no universo: presente em toda parte e visível em nenhuma.” (ap. Ullmann, Style in french prose, p. 181).

Não sabemos ao certo quem criou o discurso indireto livre, porém apareceu em obras de alguns romancistas e posteriormente imitada por outros. A influencia de Flaubert e Zola que deu maior credibilidade. Foi estudado por Bally num artigo de 1912 (“Le style indirect libre em français moderne”), a ultima forma de apresentar o discurso passou a ser considerada depois que Proust, escritor famoso passou a utilizá-lo, em seguida muitos estudos importantes apareceram.

OBS: O discurso indireto livre é a forma intermediária entre os discursos, ora se aproxima do direto, ora do indireto.

6.4 Discurso indireto livre e discurso direto

Encontram-se casos com traços mais nítidos da própria enunciação da personagem, o indireto livre se aproxima mais do direto:

- A menina estava triste.

- Santo Deus, por que ninguém gostava dela?

- Disse: “Santo Deus, porque ninguém gosta de mim?”

6.5 Contraste do discurso indireto livre com o discurso direto

Em contraste com o discurso direto que apresenta fatos manifestados, o discurso indireto livre pode sugerir pensamentos imprecisos, difusos, no monólogo. Quando tem orações nominais, sem dêiticos, sem interjeições, é difícil decidir se a fala é do narrador ou da personagem.

- A menina estava triste.

- Vida vazia, sem finalidade.

6.6 Discurso indireto livre e discurso indireto

Em alguns casos a diferença entre o indireto livre e indireto é a supressão do verbo de elocução e a conjunção:

- A menina estava chorando.

- Ninguém gostava dela.

- Disse que ninguém gostava dela.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabemos a complexidade da Língua Portuguesa, e neste trabalho tivemos a oportunidade de conhecer mais sobre a combinação de enunciados de locutores diferentes: intertextualidade e os tipos de discursos e verbos elocutivos.

Em pesquisas e leituras a respeito do referido conteúdo, certificamo-nos que este trabalho é de fundamental importância para o engrandecimento de nosso aprendizado, sobretudo elucidar questionamentos pertinentes à língua.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Wilson Roberto C. A redação de parágrafos: discurso direto e indireto. Vol.03 editora Escala.

MARTINS, Nilce Sant’Anna. Introdução à estilística: a expressividade na língua portuguesa. 3’ ed. ver. e aum. São Paulo: T. A. Queiroz, 2000. (Biblioteca universitária de língua e lingüística).

Minidicionário Houaiss da língua portuguesa / organizado pelo Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda. 2ª. ed. ver. e aum. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

REFERÊNCIAS ONLINE

pt.wikipedia.org/wiki/Intertextualidade

www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno03-15.html

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jp.smay@hotmail.com