domingo, 25 de janeiro de 2009

Estilística da Palavra: Conceito, Palavras Gramaticais e Palavras Lexicais

Professora: Mara Regina
Disciplina: Língua Portuguesa V - Estilística
Acadêmicas: Edna Bueno, Francys Tavares, Joana da Paz
1º. Semestre 2008
“Entre os indivíduos, não há nada mais relativo do que a amizade. Raramente existe. E quando existe, desaparece logo diante do interesse.”
Alcântara Machado

INTRODUÇÃO
Segundo Nilce Sant’Anna Martins, a estilística léxica ou da palavra estuda os aspectos expressivos das palavras ligados aos seus componentes semânticos e morfológicos, os quais, entretanto, não podem ser completamente separados dos aspectos sintáticos e contextuais.
Os atos de fala resultam da combinação de palavras segundo as regras da língua. Só teoricamente se separa o léxico e a gramática visto que, mesmo as palavras que têm um significado real, extralingüístico, só funcionam no enunciado com a agregação de um componente gramatical.
Há dificuldade em precisar o conceito de léxico. O léxico pode ser conceituado de três maneiras: Conjunto de morfemas de uma língua; Conjunto de palavras de uma língua; Conjunto de unidades ou palavras de classe aberta de uma língua.
As palavras gramaticais são pouco numerosas, mas de altíssima freqüência nos enunciados, desempenhando funções de grande importância. Sua função pode estar relacionada com o ato de enunciação, com a organização do discurso ou texto, ou com a estruturação da frase: substituir ou referir algum elemento presente no enunciado, atualizar os nomes, transformando-os de elementos do paradigma ou palavras de dicionários em termos da frase, indicar quantidade e intensificação, relacionar palavras no sintagma, estabelecer coesão textual, seja dentro de uma frase, seja entre frases diversas.
As palavras lexicais, também chamadas lexicográficas, nocionais, reais, mesmo isoladas, fora da frase, despertam em nossa mente umas representações. Diz-se que elas têm significação extralingüística ou externa.

1. A ESTILÍSTICA DA PALAVRA
1.1 Conceito
A estilística da palavra estuda seus aspectos expressivos ligados a seus componentes semânticos e morfológicos, e que não podem ser separados dos aspectos sintáticos e contextuais. Segundo as regras da língua os atos da fala fazem combinações de palavras. Na teoria é separado o léxico e a gramática, mesmo que as palavras tenham um significado extralingüístico elas funcionam com a associação de um componente gramatical.
Há dificuldades em se conceituar o léxico, Josette Rey-Debove em “Lexique et dictionnaire – Le langage” diz que o léxico apresenta-se de três modos.
Conjunto de Morfemas: sendo que as unidades significativas são mínimas, presas ou livres, podendo ser lexical ou gramatical. Os lexicais (radicais, semantemas, lexemas) são de classe aberta podendo ter acréscimos ou perdas, já os gramaticais (gramemas) são fechados e restritos. Este conceito é raro aceita-lo, pois a frase é formada de unidades codificadas altas que se combina com dois ou mais morfemas.
Conjunto de Palavras: Palavra é a forma livre que não pode ser dividida em formas livres menores; uma forma livre mínima pode atuar como elocução completa. Este conceito decorre a divisão das palavras em lexicais e gramaticais, das quais se encontram em dicionários, outra questão é se formas livres mínimas gramaticais podem ser consideradas palavras uma vez que elas não podem atuar como elocução completa.
Conjunto de Unidades ou Palavras de Classe Aberta: essas unidades são os morfemas lexicais ou as palavras lexicais. Esse conceito exige que os conjuntos abertos e fechados fossem exatos.
Como não se apresenta uma conceituação precisa sobre o léxico, considera-se o conceito (2) empregado no seu uso de comum, mesmo sendo criticada por lingüistas por ter o rigor cientifico. Mattoso diz que o vocábulo distingue-se em lexical (semantema) e gramatical (morfema).
Nos estudos da linguagem há duvidas quanto ao termo e não apresenta um rigor na expressividade, subjetividade, poeticidade, desvio de norma, conotação e outros. Só resta tentar compreender esses fenômenos sem que se possa ter definição e classificação. Aqui serão focalizadas as possibilidades expressivas da língua em espécies gramaticais e lexicais, ou seja, os valores que se sobrepõem sob a comunicação racional, lógica, de fatos ou idéias.

2. PALAVRAS GRAMATICAIS
Empregam-se além das denominações (morfemas, gramemas), as Palavras-formas, palavras vazias e instrumentos gramaticais. O significado de palavras gramaticais é entendido no contexto lingüístico, por esse motivo diz-se intralingüístico. Pode ser também palavras sinsemanticas porque são significativas quando estão acompanhadas por outra que é o oposto da autossemanticas (lexicais) que tem seu próprio significado. São poucas as palavras gramaticais, mas, no entanto são freqüentes nos enunciados, obtendo importantes funções que serão enumeradas sem muito rigor e exaustividade. A função pode relacionar-se com a enunciação, organização do discurso ou do texto ou ainda com a estrutura da frase. Servindo para:
- Relacionar o enunciado com a enunciação, mostrando aos participantes da comunicação o espaço e tempo que ocorre. São dêiticos (eu, tu e suas variantes aqui, aí, agora, possessivos e demonstrativos referentes a 1° e 2° pessoa, etc.);

- Substituir ou referir algum elemento no enunciado. São Anafóricos (ele, demonstrativos não relacionados a 1° e 2° pessoas, etc.);
- Atualizar os nomes, transformar palavras de dicionário em termos da frase. São os determinantes, por exemplo: artigos, pronomes, adjetivos, numerais;
- Identificar quantidade e intensificação (numerais, pronomes indefinidos quantitativos, advérbios quantitativos);
- Estabelecer coesão textual, seja dentro de uma frase ou em frases diversas (anafóricos, conjunções);
O emprego das palavras gramaticais estão na sintaxe e na organização textual, pode seguir regras fixas ou não. Podendo ocorrer alterações ou ate violar uma regra na expressão. Em certos empregos as palavras gramaticais perdem o seu valor e assim tornam-se um elemento de realce ou ate receber o valor das palavras lexicais, assim como pode ocorrer o inverso, uma palavra lexical pode vir a perder seu valor e tornar-se uma palavra gramaticalizada. Neste tópico será explicado os valores expressivos de palavras gramaticais para não tornar-se exaustivo, já que, alguns gramáticos chamam atenção para diversos empregos de palavras gramaticais, é o caso de Rodrigues Lapa em “Estilística da língua portuguesa” que expressa diferentes classes de palavras.
Said Ali tenta explicar o emprego de partículas como: mas, então, agora, sempre, afinal, pois, pois sim, pois não, se, etc., com valor diferente do gramatical. O autor explica essas expressões como á parte informativa capaz de conseguir um intuito que as palavras formais não conseguem. Outros casos de palavras gramaticais que tem o valor de realce são os advérbios cá, lá, aqui, destacado como formas pronominais:
Lá com cunho negativo: “sei lá o que ele quer”.
Ou com cunho concessivo: “vá lá que ele não ajude, mas também não atrapalha”
Ali como expressão enfática: “feia até ali. Coitadinha!”

O processo de nominalização permite transformar um vocábulo em substantivo, faz de palavras gramaticais em palavras lexicais de cunho afetivo. Por exemplo :
• O “eu” como significado complexo:
“Nosso eu maravilhoso”
• O “eu” como pronome substantivo:
“Um dia conversei com meus mortos
E todos os que morri (os eus que eu fui)
Reunidos inquietos sôfregos cada qual com um meu rosto na mão
Contarão (sua) a minha historia
Cassiano Ricardo

• O “não” substantivado substitui o valor de negação por um valor adverbial,
Vejamos:
“Seu não irredutível deixou-me decepcionado”.
• Artigo anteposto às palavras gramaticais
“Os alguns faltavam dos que eram para se reunir ali...”
• O “cujo” em norma culta é pronome relativo, mas quando substantivado com tom pejorativo é popular:
“Certa ocasião, passava eu na fazenda do Pedrinho; quando apareceu por lá o Joãozinho Cigano – botaram esse apelido no cujo, á toa não foi...”
• O “cujo” é empregado como vocativo em referencia a um animal:
“Fecha essa queixada, cujo, que isto não é comida, não, é freio.”
• Pronomes neutros com tom depreciativo referentes a pessoas como tudo, isto, isso, aquilo:
“Hoje é essa meninada que a gente vê – e tudo atrás de sinecuras.”
• De acordo com o contexto e a entoação o pronome “isto” pode ter valor de enaltecimento:
“_ Isto, rapazes, é fidalgo que, quando um pobre de Cristo escalavra a perna, lhe empresta a égua, e vai ele ao lado mais duma légua a pé, como foi com o Solha! Rapazes! Isto é fidalgo para a gente ter gosto!”
• Também substantivado “isto”, assume a noção de quantidade, grande ou insignificante:
“E Paulo teve de contar a historia toda, a luta com o surubim, o upa até dar com ele na canoa, o isto de piranha que ajuntou.”
• “Alguém” perde seu caráter indefinido e ganha conotação valorizadora na expressão “ser alguém na vida” podendo ser usada de forma indireta dirigida a uma pessoa presente:
“Alguém vai me emprestar um dinheirinho...”.
• Artigos e alguns pronomes adjetivos podem ter sentido de modificador do substantivo. Neste caso com artigo indefinido são comuns construções em que esta implícito um adjetivo intensificador:
“Foi de uma audácia!”
• Artigo definido pode se formar um sintagma com expressão adjetiva superlativa latente:
“Ele é o Professor!”
• Pronomes que assimilam um termo caracterizador, tais como: cada, tal, que, aquele e outros;
“Você arranja cada negocio!”
“Disse tais tolices!”
“Que dia, meu Deus!”
“Aquela mulher!”
• Demonstrativo equivalente ao artigo enfático:
“Índia pataxó, aquela mãe que tem, capaz de todas as raivas”.
• Palavras nocionais gramaticalizadas com redução do valor conceitual como nexos comparativos:
“Os [namorados] daqui ficam só de mãos dadas, feito uns santos...”
“E o pezinho calçado de branco era um sapato de cetim escritinho.”

3. PALAVRAS LEXICAIS
As palavras lexicais também chamadas lexicográficas mesmo fora da frase, despertam na mente uma representação. Elas têm significação extralingüística que remetem algo que está fora da língua. São numerosas e indetermináveis, pois constantemente se formam novas palavras.
Exemplo:
Determinar - Indeterminável
Feliz – Infelizmente
Total - Totalmente
Ou são emprestadas palavras de outras línguas.
Exemplo:
“Edna ganhou uma bijou linda”
“Comi dois hambúrgueres”
Também ocorre quando deixam de ser usadas, ficando apenas no dicionário.
Exemplos:
“Guardei os copos no pitisqueiro”
“Maria fica matutando no mesmo assunto”

Na constante renovação de léxico é que as palavras lexicais se dizem de inventario aberto. São palavras lexicais: substantivos, adjetivos, advérbios derivados ou correspondentes e verbos de ação. As palavras lexicais não entram no discurso, mas são investidas de uma função sintática sendo acompanhadas de gramemas (desinências flexionais de numero, gênero, pessoa, tempo e modo) muitas delas são usadas como afixos. Quando a noção gramatical não corresponde à forma lingüística se diz que tem morfema zero. Sabe-se que os morfemas são necessários para o relacionamento das palavras, sendo a colocação considerada também um morfema posicional.
Quanto á significação das palavras Tatiana Slama – Cazacu faz uma distinção entre o significado e o sentido. O significado existe na palavra pertencente ao léxico da língua: ele é necessário e muito importante do sentido. O sentido é, pois, a realidade que aparece na pratica da linguagem, como fato complexo e variável: ele depende dos diversos aspectos da personalidade d cada um e pode variar em diferentes momentos. O sentido é denotativo quando designa determinado ser, ação, circunstância, qualidade, com valor exclusivamente referencial. É conotativo quando contém algum valor particular, subjetivo.

- Sentido denotativo: termo concreto

“O cavalo é um animal bonito”
“Aquele pangaré não corre mais”
“O gato branco sujou-se na lama”
“A rosa é a flor que representa o amor”

- Sentido conotativo: termo abstrato

“Seu irmão comportou-se como um cavalo”
“Você parece um pangaré abandonado”
“O namorado da minha amiga é um gato”
“Sua mãe é uma flor”

De acordo com a autora a “palavra é um signo sonoro, que contem um núcleo significativo, que se atualiza e se completa pelo seu aparecimento em um conjunto de linguagem concreto. As palavras exprimem a realidade justamente porque podem moldar ou completar o significado conforme a situação”.

4. CONCLUSÃO
Conclui-se que a estilística da palavra tem um valor fundamental na gramática normativa. Pois ela estuda o emprego especifico e as ocorrências em que se dão ao emprega-las dentro de um enunciado. Há ocasiões em que se pensa estar errado algum seguimento da frase de um texto, é neste momento que a estilística da palavra age, pois ela explica o que ocorre dentro da língua e o efeito que ela surte.
Quanto ao estilo, cada indivíduo apresenta o seu valor característico particular na elocução. Nos textos literários por exemplo, nem sempre a linguagem apresenta um único sentido, aquele apresentado pelo dicionário. Empregadas em alguns contextos, elas ganham novos sentidos, figurados, carregados de valores afetivos ou sociais.

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
MARTINS, Nilce Sant’Anna. Introdução à estilística. 3° ed. São Paulo. T.A.QUEIROZ, 2003.

REFERÊNCIA ONLINE
acessado em 04 de Abril de 2008 às 15h00min.
http://www.metodista.br/biblioteca/abnt/abnt#folha-de-aprova-o-obrigat-rio

O Modernismo em Alcântara Machado “Brás, Bexiga e Barra Funda”

Professor: Francesco Marino
Disciplina: Literatura Brasileira III
Acadêmica: Joana da Paz Silva
16 / 05 / 2008
“Entre os indivíduos, não há nada mais relativo do que a amizade. Raramente existe. E quando existe, desaparece logo diante do interesse.”
Alcântara Machado

Introdução

A Semana da Arte Moderna foi o marco inicial do Modernismo no Brasileiro, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, de 11 a 18 de fevereiro de 1922. Esse evento foi organizado por um grupo de jovens intelectuais que tinha o objetivo de elevar a cultura brasileira ao mesmo nível dos movimentos de vanguarda europeus e que defendia a tomada de uma nova consciência política e social. Por isso, pode-se dizer que a SAM foi um evento de caráter cultural, político e social.

Principais autores do Modernismo
Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira, Menotti del Pichia, Plínio Salgado, Raul Bopp, Ronald de Carvalho e Alcântara Machado, o qual terá mais ênfase neste trabalho.

Contextualização
O início do século XX ficou marcado, no Brasil e no mundo, por uma série de mudanças em todos os setores da sociedade.
O Modernismo, além de ter gerado uma revolução estética na literatura, na música e nas artes plásticas, foi um momento único de intenso debate sobre o conceito de identidade nacional.
Nunca antes a poesia esteve tão próxima do contexto histórico-social, ideológico e cultural, tendo como um de seus principais objetivos mostrar as faces contraditórias e diversificadas do país.
Já no campo político o ano de 1922 foi cheio de agitações. Além disso, como conseqüências da marginalização das classes operárias, surgiram muitas greves e o operariado se organizou em torno de lideranças sindicalistas e socialistas, resultando na formação do Partido Comunista Brasileiro.
Ainda sob os ruídos provocados pela Semana de Arte Moderna, o Brasil vive um momento político muito importante: na eleição de 1º de março de 1922 foram escolhidos o presidente e o vice-presidente da República: Arthur Bernardes e Estácio Coimbra.

Biografia
Antônio Castilho de Alcântara Machado d’Oliveira nasceu em São Paulo, a 25 de maio de 1901, filho de ilustre e tradicional família paulistana. Formou-se em Direito pela Faculdade do Largo São Francisco. Faleceu em 14 de abril de 1935, em São Paulo, aos 34 anos de idade.
Alcântara Machado teve seu nome definitivamente consagrado com a publicação dos contos Brás, Bexiga e Barra Funda (1927) e Laranja da China (1928).

Obras do autor
Pathé Baby (1926) Brás, Bexiga e Barra Funda (1927) Laranja da China (1928) Anchieta na Capitania de São Vicente (1928) Mana Maria (romance inacabado e publicado pós-morte 1936) Cavaquinho e Saxofone (coletânea de artigos e estudos, 1940). Escreveu para Terra Roxa e Outras Terras (um de seus fundadores), para a Revista. Antropofagia e para a Revista Nova (que dirigiu).

As característica de sua obra
Perfeitamente de acordo com os ideais modernistas, marca-se pela leveza, bom humor, ao mesmo tempo critico, anedótico, apaixonado, mas sobretudo humano, que faz da cidade de São Paulo e de seu povo, com particular atenção para os imigrantes italianos, quer os moradores de bairros mais pobres, quer os que se vão aburguesando. Todo esse painel é narrado no verdadeiro dialeto paulistano resultante da mistura do linguajar do imigrante italiano com o falar do povo brasileiro, que se convencionou chamar de “português macarrônico”.
As narrativas são antecedidas por um Artigo de Fundo: "Assim como quem nasce homem de bem deve ter a fronte altiva, quem nasce jornal deve ter artigo de fundo. A fachada explica o resto.
Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias. E este prefácio, portanto, também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo.
“Brás, Bexiga e Barra Funda”, como jornal que é, não toma partido. Procura apenas noticiar os fatos do cotidiano.
Muitos ítalo-brasileiros serão homenageados neste jornal por terem impulsionado a vida espiritual e material de São Paulo.
Durante muito tempo a nacionalidade viveu da mescla de três raças que os poetas xingavam de tristes: as três raças tristes.
E nasceram os primeiros mamelucos.
A terceira veio nos porões dos navios negreiros trabalhar o solo e servir a gente. Trazendo outras moças gentis, mucamas, mucambas, mumbandas, macumas.
E nascêramos segundos mamelucos.
E os mamelucos das duas fornadas deram o empurrão inicial no Brasil. O colosso começou a rolar.
Então os transatlânticos trouxeram da Europa outras raças aventureiras. Entre elas uma alegre que pisou na terra paulista cantando e na terra brotou e se alastrou como aquela planta também imigrante que há duzentos anos veio fundar a riqueza brasileira.
Do consórcio da gente imigrante com o ambiente e o indígena nasceram os novos mamelucos.
Nasceram os intalianinhos.
O Gaetaninho.
A Carmela.
Brasileiros e paulistas. Até bandeirantes.
E o colosso continuou rolando.
No começo a arrogância indígena perguntou meio zangada:
Carcamano pé-de-chumbo
Calcanhar de frigideira
Quem te deu a confiança
De casar com brasileira?
O pé-de-chumbo poderia responder tirando o cachimbo da boca e cuspindo de lado: A brasileira, per Bacco!
Mas não disse nada. Adaptou-se. Trabalhou. Integrou-se. Prosperou.
E o negro violeiro cantou assim:
Italiano grita
Brasileiro fala
Viva o Brasil
E a Bandeira da Itália!
Brás, Bexiga e Barra Funda, como membro da livre imprensa que é, tenta fixar tão-somente alguns aspectos da vida trabalheira, íntima e quotidiana desses novos mestiços nacionais e nacionalistas. É um jornal. Mais nada. Notícia. Só. Não tem partido nem ideal. Não aumenta. Não discute. Não aprofunda. Brás, Bexiga e Barra Funda - contos com fragmentação de episódios, até registro de cenas sem interesse, mapeamento de São Paulo, exótico nos nomes das personagens, menção a produtos de consumo da época, gírias esquecidas etc.
Principalmente não aprofunda. Em suas colunas não se encontra uma única linha de doutrina. Tudo são fatos diversos. Acontecimentos de crônica urbana. Episódios de rua. O aspecto étnico-social dessa novíssima raça de gigantes encontrará amanhã o seu historiador. E será então analisado e pesado num livro.
Inscrevendo em sua coluna de honra os nomes de alguns ítalo-brasileiros ilustres este jornal rende uma homenagem à força e às virtudes da nova jornada mameluca.São nomes de literatos, jornalistas, cientistas, políticos, esportistas , artistas e industriais. Todos eles figuram entre os que impulsionam e nobilitam neste momento a vida espiritual e material de São Paulo.
Artigo de fundo
Nossa nacionalidade nasceu de três raças: A primeira já aqui habitavam e eram comedores de gente. A Segunda raça veio nas caravelas. Essas duas raças se uniram e nasceram os primeiros mamelucos.
A terceira raça veio nos porões dos navios negreiros. Essa raça se uniu as outras duas e, assim, nasceram os segundos mamelucos. E a união dessas duas espécies de mamelucos é que deram o empurrão inicial no Brasil. E o colosso começou a rolar. Através de novos cruzamentos novos mamelucos foram surgindo e o colosso continuou rolando. Brás, Bexiga e Barra Funda não é um livro, mas sim, membro da livre imprensa que apenas relata alguns aspectos da vida trabalhadeira, intima e quotidiana desses novos mestiços nacionais.

Gaetaninho
Gaetaninho era um menino dos mamelucos formado. Era pobre, muito pobre. Andava de carro só em interro ou casamento. Sonhava estar andando de carro. (...). Sonho difícil de se realizar graças à pobreza. Um dia jogando bola Gaetaninho foi atropelado por um bonde e morreu. No bonde vinha seu pai. Agora o que era sonho se tornara realidade. Gaetaninho agora andava de carro. E no carro da frente, dentro de um caixão fechado com flores pobres por cima.

Carmela
Carmela e Bianca saem juntas do serviço. Carmela é linda e possui um lindo corpo. Ela é admirada por todos que passam por ela. Bianca é estrábica e feia e, por isso, é apenas a sentinela da companheira. Carmela, porém, não gosta de ser admirada como é. Bianca adoraria ser, mas não é. Os únicos homens que chegavam para conversar com Bianca era para perguntar algo ou mandar algum recado para a amiga. Como um rapaz chamado por caixa-d’óculos pede a Bianca que avise a amiga que ele a espera às oito horas atrás da igreja Santa Cecília. Bianca avisa. Carmela da uma de durona mas vai. No encontro caixa- d’óculos convida Carmela a um passeio de carro. Ela só aceita na condição de que Bianca vá junto. Os dias passam e Carmela agora diz a Bianca que nos próximos passeios ela não irá junto por pedido de caixa-d’óculos. Bianca se irrita. (...).

Tiro de Guerra n* 35
No Grupo Escolar da Barra Funda, Aristodemo Guggiani ficou sabendo que o Brasil foi descoberto sem querer e que é o país maior, mais belo e mais rico do mundo. O professor Seu Serafim fazia, no final da aula, os alunos contarem o hino nacional e o da bandeira. Quando o sinal batia o pessoal saia vaiando Seu Serafim. Aristodermo saia da escola e ia para a oficina mecänica do cunhado. Era um moleque danado. Entre suas encrencas a mais marcante foi quando quase morreu afogado no Tietë. Aos 20 anos brigou com o cunhado e foi ser cobrador numa Companhia de Autoviação que fazia a linha Praça do Patriarca-Lapa. Logo arrumou uma namorada seria feito, no seu emprego, um sorteio para escolha de defensor da pátria. Para escapar do sorteio, Aristodemo ostentava agora a farde de soldado de tiro-de-Guerra n*35. Lá ele era a base da Segunda esquadra e foi escolhido para ser ajudante-de-ordens do Sargento Aristóteles Camarão de Medeiro natural de São Pedro do Cariri. Seu primeiro dever era saber o hino nacional de cor. Foi aí que deu valor em Seu Serafim, o professor da Antiga Escola. O Segundo dever era ensaiar o hino com toda a esquadra. Durante o ensaio um descendente de alemão sorria em vez de cantar como todos. Disse que não contava porque não era brasileiro e levou um tapa na cara dado por Aristodemo que ensaiava à esquadra o hino. O Sargento ao saber, disse apenas que ouviria testemunhas e iria proceder como fosse de justiça. A justiça foi feita e beka dizia: O Alemão era desligado do tiro-de-guerra e Aristodemo apenas suspenso por um dia. (...) e (...). Aristodemo, sob conselho do sargento, achou melhor sair do tiro-de-guerra e hoje trabalha na Sociedade de transportes Rui Barbosa Ltda na mesma linha da Praça do Patriarca-Lapa.

Amor e Sangue
Grazia não queria mais falar com Nicolino. Por mais que ele tentasse ela não queria mais saber dele. Ainda esperançoso foi até o barbeiro cortar o cabelo e fazer a barba para ver se mais bonito, reconquistava seu amor. No barbeiro ficou sabendo que um jovem matara uma moça por um amor não correspondido. Achou bandidajem tudo aquilo, não amor.
Saiu do barbeiro e topou com Grazia. Ela não queria mesmo saber dele. (...). Foi então que ele voltou aborrecido. Mais tarde quando Grazia conversava com Rosa, Nicolino veio conversar com ela (ou tentar pelo menos) pela última vez pedir que ela voltasse com ele. A tentativa foi de novo em vão. Então foi, que, com uma punhalada ele a matou. Disse ao delegado que só matou porque estava louco e porque era um desgraçado. O estribilho do Assassinato por amor causou furor na zona.

A Sociedade
O filho de Salvatore Melli chamado Adriano Melli namorava Teresa Rita filha do conselheiro José Bonifácio cuja esposa não gostava nem um pouco do namorado que a filha arrumara. Um dia Salvatore Melli e o Conselheiro José Bonifácio fizeram um ótimo negócio juntos. O negócio fora tão bom para ambas que logo seus filhos casaram um com o outro e a mulher do Conselheiro que era contra se apegou com o genro e (...).

Lisetta
Lissetta entrara no bonde com Mariana, sua mãe. Logo notara um ursinho, um lindo ursinho nos braços de uma menina rica. Ficou encantada. Quis tocá-lo, a menina percebendo abraçou com força o ursinho. A mãe da menina rica achou ruim e nem respondeu ao pedido de desculpas de Mariana. Lisetta começou a chorar por querer apenas tocar no ursinho e não poder. Ao chegar em casa Lisetta apanhou bastante de Mariana pela vergonha que causara. Seu irmão Ugo deu-lhe um pequeno ursinho, ela de alegria correu para o quarto e fechou-se por dentro com o ursinho que ganhara do seu irmão.

Corintians (2) VS. Palestra(1)
Miquelina fora até o Palestra Itália ver seu time do coração, o Palestra, jogar contra o rival Corintians. Queria também e torcia para que o astro de seu time, o Rocco, humilhasse o astro Corintiano chamado de Biagio. Mas o que vira foi totalmente o contrário. Seu time perdia por um gol a zero e seu astro Rocco faltando oito minutos para o termino da partida fez penalti em Biagio e o Corintians ganhou o jogo por dois gols a zero. Miquelina saiu de campo nervosa e nada queria.

Notas Biográficas do Novo Deputado
Juca recebera uma carta do administrador da Santa Inácia e, por ela, soube que o pai do seu afilhado Gennarinho, o compadre João italiano havia morrido de uma anemia nos rim. O administrador perguntava ao patrão o que fazer com a criança. Junto de sua esposa, Dona Nequinha, resolveram trazer o menino para morar com eles. (...). Gennarinho tinha nove anos e causava admiração em Dona Nequinha por sua esperteza. Só não gostavam do seu nome e o traduziram ficando Januario. Depois resolveram se preocupar com o futuro do menino. Colocaram-o na escola do Ginásio de São Bento. (...).

O Monstro de Rodas
Morrera uma criança. Uma menina pequena. Durante a caminhada para o enterro mulheres choravam, homens também choravam. Crianças brincavam e faziam apostas. Fora enterrada. De volta para casa olharam para o retrato que publicaram na Gazeta. Pelo retrato admiraram sua beleza, mas de mais nada isso adiantava. O pai tinha ido conversar com o advogado.
Armazém Progresso de São Paulo
O armazém do Natale era célebre em todo o Bexiga por causa das ofertas que fazia dizendo que dava um conto de réis a quem provasse que na sua venda não tinha artigos de todas as qualidades. O filho do doutor da esquina brincava com Natale sobre a oferta tentando achar algo que o armazém não possuía. Ele marcava tudo o que comprava na conta do pai só com pseudônimos. O armazém tinha crescido nos últimos tempos graças ao trabalho forte dele e sua esposa a Dona Bianca que suava firme na cozinha. Certo dia Dona Bianca fora servir um cliente por nome de José Espiridião e este mexera com ela. Correu a contar ao marido. Este ao ir conversar com Espiridião fora tapiado na mudança da conversa para o aumento do preço da cebola. Natale voltou para a esposa e perguntou se tinha cara de idiota. Esta fora dormir se vendo no palacete mais caro da Avenida Paulista.
Nacionalidade
O barbeiro Tranquillo zampinetti era bem tranquilo. A tarde sentava junto a sua esposa na calçada e falavam somente na Itália. (...). (...). Ia dormir com a idéia de voltar à pátria na cabeça. Ele era proprietário de vários prédios em São Paulo. Chorou como uma criança o Bruno se formou bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo. O primeiro serviço profissional do Bruno foi naturalizar brasileiro Tranquillo Zampinetti, cidadão italiano residente em São Paulo.

Análise
Modernista de primeira hora, o paulistano, Alcântara Machado escolheu a paulicéia para assunto das suas narrativas. Em vez dos lugares da moda, ditado pelo aristocratismo da Semana da Arte Moderna, concentrou-se nos bairros proletários de imigrantes italianos para escrever os seus contos, agrupados notadamente em Brás, Bexiga e Barra Funda, onde se inclui a historia trágica de Gaetaninho, típico exemplar de ítalo-paulistano. Já por esse simples aspectos o seu Autor se distinguiria dos demais companheiros de geração. Alcântara Machado poderia bem ser considerado um autêntico cronista: as suas narrativas pareciam balançar entre o retrato fidedigno, como o de uma reportagem objetiva e isenta, e a transfusão imaginária, própria de quem, decerto comovido com episódios que presenciara ou de que tinha conhecimento, se punha a tecer historias paralelas aos fatos. Para o Autor, no entanto, a primeira alternativa prevalece: “Brás, Bexiga e Barra Funda (...) tenta fixar alguns aspectos da vida trabalheira, íntima e cotidiana desses novos mestiços nacionais e nacionalistas. Numa escrita jornalística, fluente, sincopada, moderna, concisa, cujo sabor realista não se perdeu apesar de transcorrido cerca de 70 anos da sua elaboração. O narrador extrai da boca do povo a linguagem do conto, inclusive palavras italianas em uso (“Súbito!”) ou o tom italianado das falas, que se diria irradiar-se para o próprio estilo do Autor. O futebol e o jogo do bicho, manifestações populares ainda hoje estão em voga, estão presentes, para compor o quadro da “ralé”. Se de um lado, aqui desponta o preconceito arraigado da sociedade paulistana de velha cepa, de outro, o narrador registra o processo de ascensão social de alguns imigrantes quando enriquecem, adquirem carro e mudam para elegantes bairros residenciais, como é o caso de Beppino, contraposto ao de Gaetaninho. Costumbrista, Alcântara Machado parece fundir o cosmopolitismo da sua formação com o regionalismo urbano da sua eleição, como se o prazer de viajante culto atento, se transferisse para São Paulo e os “novos mamelucos”. Fazendo um turismo interno, produziu uma obra que permanece como um álbum de instantâneos não raro expressionistas da Paulicéia do seu tempo, vazados num estilo inconfundível, de cinematográficas ressonâncias. É um jornal. Nada mais. Noticia. Só. Não tem partido nem ideal. Não comenta. Não discute. Não aprofunda”, diz ele no “Artigo de Fundo” que abre o volume de contos.
Considerações finais
Nesta pesquisa em torno do Modernismo, sendo mostrado seu contexto histórico, principais autores e o Modernismo no Brasil a partir da análise de “Brás, Bexiga e Barra Funda” obra de Alcântara Machado. Com esta analise, obtive informações importantes sobre o Modernismo e principalmente sobre dia-a-dia dos imigrantes que habitavam e trabalhavam nestes bairros da cidade de São Paulo.
Referências
MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo, Cultrix, 1971, 25ª ed., 2005.
NICOLA, José de, Lteratura brasileira: das origens aos nossos dias. São Paulo, Spicione, 2003.
www.portrasdasletras.com.br
www.netliteratura.hpg.com.br
http://www.mundocultural.com.br/index.asp?ur
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RESUMO: AS VARIADAS FORMAS DE LER

Professora: Katiúscia Fernandes
Disciplina: Revisão e Editoração de Textos
Acadêmica: Joana da Paz

Segundo Márcia Abreu em sua obra As variadas formas de ler: In: No fim do século: a diversidade – o jogo do livro infantil e juvenil. Há grande diversidade no exercício de ler. Os diferentes suportes de textos possibilitam ou impõem limites à leitura, conhecidas como interpretações sobre as diferentes formas de leitura. De acordo com a Autora, observa-se dificuldades e facilidades da decifração das imagens construídas diante do que se vê em cada caso. Séculos depois da invenção de Guttemberg, os leitores continuavam com desconfiança em relação aos textos impressos, havia rompido a familiaridade entre o autor e leitores. Até o século XVIII, um escritor tinha sempre que vincular sua obra com outra de modelo consagrado para manter a tradição, porém, a partir do século XIX que os autores começaram a individualizar suas obras e aproximar escritor do leitor, então, começamos a pensar na leitura e escrita como individualistas solitários e silenciosos, mas essa forma é encontrada nas camadas eruditas e pouco comum nas populares. Há tempos que a leitura era feita em voz alta para si ou para um grupo, por esse motivo o autor preocupava-se com o discurso na concepção oral, dessa forma fornecia informações repetidas com a capacidade de não enfadar o leitor. Era parte de um conjunto de práticas culturais que passavam pelo livro: a escuta dos textos, sua memorização, o reconhecimento nas letras impressas no papel, o texto repetidas vezes ouvido. Durante muito tempo o bom leitor, lia pouco, relia constantemente e meditava sobre a leitura. A idéia que o bom leitor é o que lê muitos textos variados é recente, mas nem atualmente todos lêem e escrevem da mesma forma. ”A leitura, além de uma história, tem uma sociologia (CHARTIER, 1998). As formas de ler e avaliar um texto varia se considerarmos as diferentes classes sociais, regiões, €etnias, etc. Observamos a Literatura de Cordel, (folheto) que teve início de produção em fins do século XIX, que tem vínculos com a oralidade, os autores por muito tempo compuseram seus poemas mentalmente e seus ouvintes/leitores reconhecem-na por meio dos sinais gráficos da história-escrita que já conheciam de cor, de forma cantada ou contada em versos, dessa forma possibilita a compreensão de todos. Tratando-se de literatura impressa, carrega marcas de oralidade advindas da situação em que são produzidas e recebidas: formas específicas de interlocução, estruturação da narrativa, marcas de mudança de foco, etc., dessa forma a criação de regras tradicionais e regulada por necessidade mnemônicas, a leitura intensiva e em voz alta é presente em leitores e autores de Literatura de Folhetos. ). As formas de ler e avaliar um texto varia se considerarmos as diferentes classes sociais, regiões, etnias, etc. Observamos a Literatura de Cordel, (folheto) que teve início de produção em fins do século XIX, que tem vínculos com a oralidade, os autores por muito tempo compuseram seus poemas mentalmente e seus ouvintes/leitores reconhecem-na por meio dos sinais gráficos da história-escrita que já conheciam de cor, de forma cantada ou contada em versos, dessa forma possibilita a compreensão de todos. Tratando-se de literatura impressa, carrega marcas de ). As formas de ler e avaliar um texto varia se considerarmos as diferentes classes sociais, regiões, etnias, etc. Observamos a Literatura de Cordel, (folheto) que teve início de produção em fins do século XIX, que tem vínculos com a oralidade, os autores por muito tempo compuseram seus poemas mentalmente e seus ouvintes/leitores reconhecem-na por meio dos sinais gráficos da história-escrita que já conheciam de cor, de forma cantada ou contada em versos, dessa forma possibilita a compreensão de todos. Tratando-se de literatura impressa, carrega marcas de considerar o leitor como completamente livre, pois submetido a restrições e limites impostos por sua formação cultural e pela forma particular do texto que lê (CERTEAU, 1994). De acordo com a Autora observa-se nas práticas de leitura escolares, sobretudo o texto literário, o quadro será bastante alterado, daí a adversidade à uniformidade de textos nos modos de ler. Na escola, os textos literários: narrativos, poéticos ou dramáticos são selecionados e apresentados aos alunos como a literatura, sendo que as demais como se fossem subprodutos ou com formas imperfeitas, não é explicado aos alunos o porque destas obras representarem o cânone literário, ou possuírem uma literariedade de qualidade intrínsecas, portanto, a-históricas e a-culturais, o leitor deve ser capaz de reconhecê-las. Desconsidera-se que por detrás do rótulo literatura existe um trabalho de seleção de textos, de intelectuais. Um elemento importante interfere: a legitimidade e consagração do critico atuam na capacidade de legitimar e consagrar uma obra. Visão ingênua como a de Voltaire que acreditava que Shakespeare não passava de um “selvagem bêbado” e que seu teatro era bárbaro e vulgar (GRAIER, 1999); Virgínia Wolf a respeito de Ulisses, de Joyce “desagradável, inculto, pretensioso, em resumo, um fracasso”(GRAIER, 1999); Silvio Romero a respeito de Machado de Assis, considerava Memória de Brás Cuba s (ROMERO, 1936); Machado não apreciou “O Primo Basílio, a narrativa , “exterior e superficial”, de linguagem chula (O Cruzeiro, 1878). Cita a Autora que alguns desses exemplos foram extraídos da resenha de Carlos Graieb, sobre o livro Rolten Revieeurs uma antologia de criticas ferinas feitas por intelectuais de renome a grandes autores da literatura universal. O resenhista propõe a idéia de que ninguém “está a salvo de proferir besteiras, se não diante de seus contemporâneos, ao menos diante da posteridade”. A avaliação que se faz de um texto depende de critérios exteriores à obra, como parentesco com uma tradição reconhecida, a posição do autor no campo literário, sua filiação intelectual, condição social e étnica, relações políticas, etc., a imagem feita pela critica literária do que seja literatura e do que seja autor em cada época, o mercado editorial, convenções éticas e morais. Saber quem é o autor e qual a opinião sobre seu trabalho interfere na maneira de como o lemos. Conflito de avaliação ocorridos na elite intelectual. Apesar de ter versado um dos maiores clássicos da literatura universal Romeu e Julieta, João Martins de Athayde discorda quanto aos princípios que deveriam reger o comportamento do herói, a história parece mal construída e não agrada ao poeta. O gosto e a apreciação estética não são universais, dependem do universo cultural ao qual é inserido, pois tem várias formações diferentes. O prestigio social dos intelectuais ligados à literatura faz de sua opinião como única e verdadeira. Para ter simpatia sobre literatura erudita, podemos começar tentando conhecer e entender as práticas, os objetos, os modos de ler distintos, compreendendo-os dentro do sistema de valores que foram criados e começar a pensar que as leituras são diferentes e não piores ou melhores e para compará-las teremos de fazê-lo de acordo com os critérios internos ao universo em que foram produzidas. Não estamos propondo, como se vê, que se abandone o estudo literário canônico, mas que a escola, também a universidade e a crítica literária, garanta espaço para a diversidade de textos e de leituras. Com isso, alargando conhecimentos, refletindo sobre a própria cultura e respeitando e dando direito à diferença.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ABREU, Márcia. As variadas formas de ler. In no fim do século: a diversidade – o jogo do livro infantil e juvenil. (Org. Graça Paulino e outros). Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

Acadêmica de letras: Literatura Francesa em Pierre de Ronsard “Sonnet à Cassandre”

Acadêmica de letras: Literatura Francesa em Pierre de Ronsard “Sonnet à Cassandre”

Literatura Francesa em Pierre de Ronsard “Sonnet à Cassandre”

Professora : Rosana Mendes
Disciplina : Literatura Francesa I
Acadêmicas: Delta Brito, Edna Bueno, Joana da Paz
Data: 07 / 05 / 2008

"Aquele que conhece as coisas é quase Deus".

Pierre de Ronsard


Introdução


Nesta pesquisa sobre o poeta francês renascentista, diplomata e líder da Plêaide Pierre de Ronsard. Podemos observar sua trajetória junto ao reino da França e sobre suas obras, seus amores.
Traduziremos e analisaremos uma das suas célebres obra “Sonnet à Cassandre”

Biografia


Pierre de Ronsard nasceu em nasceu em 11 de setembro de 1524, em uma família de nobres de Vendômois, perto de Orleans. Foi preparado para seguir a carreira diplomática. Passou toda sua juventude como pajem dos filhos do rei, freqüentou a elite do reino e os literatos. Por causa da doença (que lhe deixou surdo) passou a si interessar aos estudos e à escrita. Sua personalidade forte permitiu impor-se ao grupo da Plêiade. Após algumas tentativas na poesia erudita, imitando aos gregos, volta-se para as coletâneas de amor, onde canta com simplicidade seus sentimentos para Cassandra ou para Maria, jovens mulheres pouco conhecidas.
Hoje não temos dificuldade de imaginar a ascendência que Ronsard exerceu sobre sua época. Suas publicações lhe conferem uma autoridade e um prestígio crescente. Sob o reinado de Charles IX (1560 – 1574), adquiriu glória e fortuna. Ronsard sabia fazer a síntese do gosto humanista que, na transição do século, puderam plenamente se desabrochar, e proclamou sua independência e ambição sem comprometer seu talento, era respeitado por todos, a serviço de uma causa, era um poeta “empenhado”. Através de seus namoricos canta as obsessões do homem do século XVI (fuga do tempo, aspiração à paz, desejo de se refugiar na natureza acolhedora, admiração aos gostos antigos, etc.). Em face de uma história que acelera e vacila, Ronsard nos convida a gostar do prazer e da arte de amar. O poeta faleceu em 27 de dezembro de 1585.
O Renascimento
Em termos gerais, por definição o Renascimento foi um movimento artístico, científico e literário que floresceu na Europa no período correspondente entre à Baixa Idade Média e o início da Idade Moderna, do século XIII ao XVI, com o berço na Itália e tendo em Florença e Roma como seus dois centros mais importantes. Sua principal característica foi o surgimento da ilusão de profundidade nas obras e, cronologicamente, pode ser dividido em quatro períodos: Duocento (1200-1299), Trecento (1300-1399), Quattrocento (1400-1499) e Cinquecento (1500-1599).
O Renascimento foi um movimento cultural cuja principal característica foi o surgimento da ilusão de profundidade nas obras.
Uma concepção elevada da poesia.

Os temas de Ronsard são inspirados pelo epicurismo (sensualidade). Sua poesia evoca a juventude que foge rapidamente; a natureza que é harmoniosa; o amor que contém todos os sentimentos. Mas, esses temas acentuam a vitória do tempo e da morte. A poesia se apresenta então como meio de compensar a fragilidade das coisas da vida: ela imortaliza esse e estes que ele canta. Tal que a jovem mulher desconhecida passará assim à posteridade; tal rei se verá conferir a glória. Ronsard reencontra o velho mito antigo do poeta mago. A poesia completa um sacerdócio e transmite revelações. Ela dá claridade e exprime, à prática de toda nação, os grandes ideais, as crenças, as esperanças. Ronsard se vê então poeta, próximo aos príncipes, como cronista e como guia.
Imitando o poeta latino Horácio e se inspirando no poeta grego Pindare, Ronsard publica em 1550, seus primeiros quatro livros de odes. O quinto e último livro de ode surgiu em 1552. Nessas odes, o autor inovou totalmente do ponto de vista da vida poética, utilizando todo seu tempo livre escolhendo a mitologia antiga, obtendo um grande sucesso, e frente ao mais novo dos poetas e o chefe de uma seqüência da Brigada. Foi o primeiro poeta a escrever uma coleção composta exclusivamente de odes, formas poéticas onde se acentua a musicalidade: poesia estrófica lírica. Os versos acompanhados de alaúde ou “apreciadas à lira”, e que tinha como missão celebrar seu destinatário, de louvá-lo ao extremo. Ronsard aparece na sua complexidade, porque a mesma coleção, faz entender o louvor dos reis (poesia oficial) e o elogio da vida privada consagrada ao amor, aos amigos e a poesia (poesia intimista e lírica). Em suas odes, Ronsard define igualmente a missão do poeta, que é inspirado pelos deuses – segundo uma tradição platoniense já comentada no século XV pelo filósofo Florentin Marsile Ficin.

Técnico da emoção

Quem diz Ronsard, diz poeta do amor. Esta reputação rende parcialmente justiça a originalidade e o interesse do autor. Ronsard se fez eco dos acontecimentos da vida nacional, e escreveu muito sobre temas políticos e filosóficos. De fato, ele redigiu uma obra fortemente personalizada, toda na primeira pessoa, onde põe suas mudanças de humor, sua característica taciturna, sua arrogância entusiasmos e decepções, certezas e dúvidas; Ronsard em toda parte dá a impressão de fazer da poesia uma declaração. O poeta foi um precursor do Romantismo, o descobriu com antecedência de duzentos anos, como se estivesse vivendo a época, poeta sincero, apressado em escrever pela força de seus sentimentos. Na realidade, essa concepção é ingênua.
Ronsard passou a vida mudando suas anedotas íntimas em obra de arte elaborada. Assim ele mesmo velou as seis edições sucessivas de suas obras completas, de 1560 a 1584, não parava de corrigir, de organizar seu plano de apagar as obscuridades inúteis ou as fórmulas livres demais. Suas famosas compilações de versos amorosos são os mesmos refundidos (modificados) várias vezes, não hesitou em trocar as peças dedicadas às mulheres de origem desconhecidas, de fato modificava a dedicatória. Não é duvidoso que Ronsard havia tido tumultuosos amores sinceros, mas sua obra atesta, sobretudo, a vontade muito consciente de um artista que visa menos a confidencia que a perfeição. A emoção é menos que a fonte e a origem do que o efeito do poema. No fundo, é aqui que o classicismo se anuncia.

Cantor do amor

Em sua vida, Ronsard fora saudado como uma espécie de poeta oficial, e trabalhou muito sob comando: hinos, discursos, ensaios épicos, traduções antigas, textos polêmicos contra os Reformistas, etc. Mas, paralelamente, rompe com essa austera produção para se consagrar ao amor. Ronsard não coloca sua vida sentimental sobre o signo de um único e exclusivo amor (contrariamente de Petrarca, Scève ou Du Bellay em Olive). Escolhera desenvolver o tema literário do amor sobre todas as faces, por meio de diversas figuras femininas: Cassandra, Maria, Helena.
A crítica as identificou, mas, Ronsard realiza mudanças de nomes e de classificação no decorrer das edições sucessivas. Os poemas de Ronsard não poderiam ser reduzidos a uma série de ilusórias referencias vivida. Não se preocupa em reproduzir uma emoção, mas de provocar o leitor.
Identificações possíveis:
- Cassandra, filha do banqueiro Salviati, casada com um senhor de Vendômois, era sobrinha de Diana Salviati, amada d’Agrippa d’Aubigné, e descendente distante de Alfred de Musset.
- Maria, sem dúvida Maria Dupin, uma jovem moça do meio modesto reencontrada em Bourgueil, en Anjou, ou Maria de Clèves, a jovem amante do rei Henri III, morta muito cedo.
- Helena, dama de honra de Catharina de Médicis, Helena de Surgères ficou inconsolável com a morte de seu noivo.
Os poemas mais conhecidos de Ronsard parecem ingênuos e simples, mas, juntos, sua coleção não faltam proezas e complicações petrarquianas. Porquanto jamais faz perder de vista que Ronsard escreveu para a civilidade, atingido pela cultura italiana bastante refinada.

Últimas chamas

Afetava-lhe e menosprezava os poetas cortesãos, Ronsard não parou de rimar sobre esse comando. Teve dúvida ao se engajar, por exemplo, a um grande poema épico em glória à monarquia e a nação francesa, a Franciade (1572). Esta vasta e indigesta epopéia nacionalista não teve muito sucesso e ficou inacabada. Ao lado desse fiasco, os Discursos atestam mais o entusiasmo ronsardiano: o poeta se “engaja” a atacar violentamente os “hereges”. Os protestantes tomam então Ronsard como alvo; ele terá de se defender e mostrar a pureza de sua vida.
Todas essas tensões não trouxeram bons resultados a Ronsard; ele se exaspera e taciturno vai constantemente a um dos três priorados de Touraine, onde os príncipes o tinham gratificado. Na morte de Charles IX (1574), Ronsard sentiu que a dinastia degenerou. As pessoas preferiam Du Bartas ou Desportes. Os protestantes não perdoaram seus versos fanáticos. Ele se enfurecia e criticava seus rivais (cravadas de inflamadas rasteiras), sua hora passou. Os últimos poemas refletem então esse crepúsculo: se justifica e se lastima. Com seu realismo habitual, descreve sua decepção. Mas, sua nostalgia voluptuosa dá Graça e sensualidade a essas últimas poesias fúnebres. Uma espécie de amor pagão brilha aqui as últimas chamas de sua vida.
A crise dos valores e o surgimento do barroco na poesia.


Um clima novo

Os traços de Ronsard gravitam entre os discípulos e os imitadores. Alguns são próximos a ele (Bellay, Baif, Pontus de Tyard): os outros são os rivais da corte (tal como Desportes): enfim, outros o admiram, mas não são de seu campo político (os protestantes Agrippa d’Aubigné e Guillaume Du Bartas). Dos que viviam com Ronsard, todos admitem sua superioridade, mas em sua morte (1585), nenhum reclama sua herança. Montagne tinha razão de ironizar: depois que Ronsard e Du Bellay deram crédito à nossa poesia francesa, não vi sequer um pequeno aprendiz se apaixonar pelas palavras, e não se classifica na cadência, tão pouco perto às deles.
Ora, entre a Plêiade nascente (próximo a 1550) e os anos onde todo o mundo “ronsardise” (perto a 1570 – 1585), o clima mudou. A conjuração d’Amboise (1560) e a repressão que seguiu dá o sinal das guerras civis. Elas vão romper as consciências e ensangüentar o país durante muito tempo; a violência e os horrores se generalizam.
A humanidade vê suas certezas se afundarem. Os temas trágicos reaparecem: o macabro, o sofrimento, a vitória da morte, a fragilidade e a inconstância do homem.
Pouco tempo depois de sua morte, Ronsard cai em desgraça. Malherbe condena a luxúria de sua língua; os clássicos não encontram nada disso que eles amam: a medida, a razão, o rigor e o bom gosto; por algum tempo o desonra – o grande Arnauld falara de suas “lastimáveis poesias”, Voltaire lhe julgara “bárbaro” -, Ronsard foi redescoberto por Sainte-Beuve e celebrado pelos Românticos. É que ele surgiria dois séculos para reencontrar tal sinceridade de lirismo. Mas esta reabilitação não é unânime. Michelet o consagra em sua História da França, algumas páginas cruéis: “Tapado como um surdo sob a pobre língua francesa.”. Mais desempenhado de suas referencias eruditas, mitológicas e cortesãs, a poesia de Ronsard fica jovem, também eterna nisso que ela canta melhor: o amor e a natureza.


Características da Obra
- O amor por Cassandra
- Musicalidade
- Natureza
- O sofrimento
- A vulnerabilidade
- Ilusão em profundidade

Texto original
Sonnets à Cassandre
Ciel, air et vents, plains et monts découverts,
Ce texte est extrait de Les Amours écrit
par Pierre de Ronsard
Ciel, air et vents, plaine et monts découverts,
Tertres vineux et forêts verdoyantes,
Rivages torts et sources ondoyantes,
Taillis rasés et vous bocages verts,

Antres moussus à demi-front ouverts,
Prés, boutons, fleurs et herbes roussoyantes,
Vallons bossus et plages blondoyantes,
Et vous rochers, les hôtes de mes vers,

Puis qu'au partir, rongé de soin et d'ire,
A ce bel oeil Adieu je n'ai su dire,
Qui près et loin me détient en émoi,

Je vous supplie, Ciel, air, vents, monts et plaines,
Taillis, forêts, rivages et fontaines,
Antres, prés, fleurs, dites-le-lui pour moi.


Texto traduzido

Soneto à Cassandra
Céu, ar e ventos,têm pena dos montes descobertos.

Céu, ar e ventos, planícies e montes descobertos,
Colinas avermelhadas e florestas verdejantes,
Ribeiras retorcidas e fontes ondulantes,
Matas niveladas e vocês verdes arvoredos

Cavernas musgosas à frente descoberta,
Prados, botões, flores e ervas rocheadas,
Pequenos vales corcundas e praias douradas,
E vocês rochedos, deformações de meus versos,

Que após partir, corroído de cuidado e de cólera
Nem a esse belo olho eu disse Adeus,
Que perto ou longe detém-me a emoção,

Eu vos suplico, Céu, ar, ventos, montes e planícies,
Matas, florestas, ribeiras e nascentes,
Cavernas, prados, flores, digam-lhe por mim.

Análise do poema.


O Soneto à Cassandra (Sonnet à Cassandre) de Pierre de Ronsard composto de 14 versos, disposto em 2 quartetos e 2 tercetos. Observamos em todas as estrofes “Céu, ar e ventos, planícies e montes descobertos / Colinas avermelhadas e florestas verdejantes / Ribeiras retorcidas, e fontes ondulantes / Matas niveladas e vocês verdes arvoredos”, o poeta utilizou uma metáfora, os ‘montes descobertos’, que seria o seu amor secreto o qual ele só podia falar à natureza. Percebemos que todo o poema, Ronsard demonstra toda sua vulnerabilidade, ao se apaixonar e sua paixão um amor impossível. A predominância neste soneto é a natureza, como podemos perceber em todo o poema.
É percebível que o poeta se refere a um amor impossível ou em segredo, podemos confirmar nestes versos: “Que após partir, corroído de cuidado e de cólera / Nem a esse belo olho eu disse Adeus / Que perto ou longe detém-me a emoção,” visto que Cassandra era casada.
Incapaz de se declarar, o poeta apela ao céu, aos ventos, ao ar, a tudo que se refere à natureza que diga à Cassandra de seu amor, como podemos ver na última estrofe: “Eu vos suplico, Céu, ar, ventos, montes e planícies / Matas, florestas, ribeiras e fontes / Cavernas, prados, flores, digam-lhe por mim.”
Nesta obra a musicalidade também é predominante.
Identificamos nos versos suas mudanças de humor, sua taciturnice, sua arrogância, entusiasmos e decepções, certezas e dúvidas; Ronsard em toda parte dá a impressão de fazer da poesia uma declaração. O poeta Renascentista antecedeu a época , por ser um poeta sincero e apressado em escrever seus versos com romantismo.


Conclusão

Ao fazermos este trabalho percebemos a grande importância para o nosso aprendizado, por sermos acadêmicos do Curso Bacharel em Letras Tradutor Francês / Português. Pois tivemos oportunidade de conhecer um poeta renomado como Pierre de Ronsard, principalmente por traduzirmos uma das suas obras


Referências

FERNANDES, Francisco, LUFT, Celso Pedro, GUIMARÃES, F. Marques. Dicionário brasileiro Globo. 40 ed. São Paulo, Globo, 1995.

FLORENZANO, Everton. Dicionário EDIOURO francês/português português/francês. 18ª Edição, Ediouro publicações S.A.

Acesso em: 14 / 04 / 2008
www.google.fr/pierrederonsard
pt.wikipedia.org/wiki/Pierre_de_Ronsard
http://www.weltchronik.de/ws/bio/r/ronsard/

sábado, 24 de janeiro de 2009

O teatro francês em Molière Le Malade Imaginaire (O doente imaginário)

Professora: Rosana Mendes
Disciplina: Litterature Française
Acadêmicas: Delta Brito, Edna Bueno, Joana da Paz, Mackelle Araújo

Apresentação
Gênio da literatura francesa e universal, Molière adotou as formas tradicionais da comédia e revitalizou-as num novo estilo, em que os contrários se confrontam: a verdade se opõe à falsidade, a inteligência ao pedantismo. Esse estilo, unido à aguda percepção do absurdo da vida cotidiana, deu às obras de Molière um caráter inimitável.
Biografia
Jean- Baptiste Poquelin nasceu em 15 de janeiro de l622 e faleceu em 17 de janeiro de 1673, em Paris, filho de Marie Crassé e Jean Poquelin. Seu pai foi um exímio tapeceiro do Rei. Molière estudou no colégio jesuíta de Clermont em 1637, antes de partir à Orleans para fazer o curso de Direito. Renunciou a uma carreira jurídica e a herança de seu pai, iniciou sua carreira teatral ainda muito jovem.
No mais, tinha seu lugar junto aos maiores escritores franceses, não apenas por causa que sua obra emprega todo o método concebido para os espectadores.
Sua vida, alias, foi uma serie de turbilhões. Foi acometido de doenças, mesmo assim, Molière conheceu grandes sucessos, mas também o fracasso total. Era às vezes adorado por seus amigos e detestado por inúmeros inimigos. Em parte algumas pessoas o cobriam de louvores, e em outra parte o sufocava com calúnias.

Principais obras
La jalousie du Barbouillé
Le médecin volant
L'étourdi
Le dépit amoureux
Les précieuses ridicules
Sganarelle
Dom Garcie de Navarre
L'école des maris
Les Fâcheux
L'école des femmes
La critique de l'école des femmes
L'impromptu de Versailles
Le mariage forcé
La princesse d'Élide
Tartuffe
Don Juan
L'amour médecin
Le misanthrope
Le médecin malgré lui
Mélicerte
Pastorale comique
Le sicilien
Amphitryon
Georges Dandin
L'avare
Monsieur de Pourceaugnac
Les amants magnifiques
Le bourgeois gentilhomme
Psyché
Les fourberies de Scapin
La comtesse d'Escarbagnas
Les femmes savantes
Le malade imaginaire
Les affaires sont les affaires

Obra para análise
Le Malade imaginaire (1622-1673), Acte II, scène 2

ARGAN — Monsieur Purgon m'a dit de me promener le matin dans ma chambre douze allées et douze venues ; mais j'ai oublié à lui demander si c'est en long ou en large.
TOINETTE — Monsieur, voilà un...
ARGAN — Parle bas, pendarde ! Tu viens m'ébranler tout le cerveau, et tu ne songes pas qu'il ne faut point parler si haut à des malades.
TOINETTE — Je voulais vous dire, Monsieur...
ARGAN — Parle bas, te dis-je.
TOINETTE — Monsieur... (Elle fait semblant de parler.)
ARGAN — Eh?
TOINETTE — Je vous dis que... (Elle fait semblant de parler.)
ARGAN — Qu'est-ce que tu dis ?
TOINETTE, haut. — Je dis que voilà un homme qui veut parler à vous.
ARGAN — Qu'il vienne. (Toinette fait signe à Cléante d'avancer.)
CLÉANTE — Monsieur...
TOINETTE, raillant1. — Ne parlez pas si haut, de peur d'ébranler le cerveau de Monsieur.
CLÉANTE — Monsieur, je suis ravi de vous trouver debout et de voir que vous vous portez mieux.
TOINETTE, feignant d'être en colère. — Comment qu'il se porte mieux ? Cela est faux, Monsieur se porte toujours mal.
CLÉANTE — J'ai ouï dire que Monsieur était mieux, et je lui trouve bon visage.
TOINETTE — Que voulez-vous dire avec votre bon visage ? Monsieur l'a fort mauvais, et ce sont des impertinents qui vous ont dit qu'il était mieux. Il ne s'est jamais si mal porté.
ARGAN — Elle a raison
TOINETTE — Il marche, dort, mange, et boit tout comme les autres ; mais cela n'empêche pas qu'il ne soit fort malade.
ARGAN — Cela est vrai.
CLÉANTE — Monsieur, j'en suis au désespoir. Je viens de la part du maître à chanter de Mademoiselle votre fille. Il s'est vu obligé d'aller à la campagne pour quelques jours, et, comme son ami intime, il m'envoie à sa place pour lui continuer ses leçons de peur qu'en les interrompant elle ne vînt à oublier ce qu'elle sait déjà.
ARGAN — Fort bien. Appelez Angélique.
TOINETTE — Je crois, Monsieur, qu'il sera mieux de mener Monsieur à sa chambre.
ARGAN — Non, faites-la venir.
TOINETTE — Il ne pourra lui donner leçon comme il faut s'ils ne sont en particulier.
ARGAN — Si fait2, si fait.
TOINETTE — Monsieur, cela ne fera que vous étourdir, et il ne faut rien pour vous émouvoir en l'état où vous êtes, et vous ébranler le cerveau.
ARGAN — Point, point, j'aime la musique, et je serai bien aise de... Ah ! la voici. Allez-vous-en voir, vous, si ma femme est habillée.

O Doente Imaginário
ARGAN – Senhor Purgon me disse para eu caminhar pela manhã em meu quarto, doze idas e doze vindas; mas eu me esqueci de lhe perguntar se eram passadas longas ou curtas.
TOINETTE – Senhor veja um...
ARGAN – Fala baixo, pendarde ! Tu vais misturar todo o meu cérebro, e tu não sonha que se falares alto ele pode adoecer.
TOINETTE – Eu queria lhe dizer, Senhor...
ARGAN – Fale baixo, eu disse.
TOINETTE – Senhor... (Ela faz menção de falar)
ARGAN – Eh?
TOINETTE – Eu vos disse que.... (Ela faz menção de falar)
ARGAN – O que dissestes?
TOINETTE – alto. – Eu disse que eis o homem que quer falar com o senhor.
ARGAN – que venha. (Toinette faz sinal para Cléante se aproximar)
CLEANTE – Senhor...
TOINETTE – avisa. – não fale alto, por medo de embaralhar o cérebro do senhor.
CLÉANTE – Senhor estou encantado de encontrar-vos em pé e de ver que vós se encontra melhor.
TOINETTE, de boa vida de estar em cólera. – Como que ele se encontra melhor? Como assim, é falso, senhor se encontra sempre mal.
CLÉANTE – Ouvir dizer que o senhor estava melhor, e eu lhe encontramos de semblante bom.
TOINETTE – Que queres dizer com seu bom semblante? Senhor foi acometido por um mal fortíssimo, e são impertinentes quem vos disse que ele estava melhor. Nunca se alcance o mal
ARGAN – Ela tem razão.
TOINETTE – Ele anda, dorme, come, e bebe tudo como os outros; mas isso não impede que não sinta muito mal.
ARGAN – Isso é verdade.
CLÉANTE – Senhor estou em desespero. Venho da parte do professor de canto da senhorita sua filha. Ele se viu obrigado a ir ao campo por alguns dias, e, como seu amigo intimo me enviou em seu lugar para dá continuidade as suas lições por temer que se interrompa e ela esqueça o que já sabe.
ARGAN – Bem forte. Chame Angélique.
TOINETTE – Creio senhor, que será melhor conduzi-lo ao quarto dela.
TOINETTE – Ele não poderá ensiná-la como se não fosse em particular.
ARGAN – Mais se, mais se.
TOINETTE – Senhor, isso não lhe fará atordoar, e não faz nada para comover o estado em que o senhor está, e embrulhar seu cérebro.
ARGAN – Ponto, ponto final, amo música, e estarei bem a vontade de...Ah! ei-la. Vão-se embora ver, vocês, se minha mulher está vestida.
ARGAN – Ponto, ponto final, amo música, e estarei bem a vontade de...Ah! ei-la. Vão-se embora ver, vocês, se minha mulher está vestida.

Enredo:
O doente imaginário é uma ‘Comédia-ballet’ de 1673. Trata-se da ultima peça de Molière onde ele mesmo atuou como o personagem Argan. Um pouco antes do fim da quarta apresentação, Molière morre em sua casa. A peça contém três atos, centrado na personagem Argam: o doente imaginário, que decidiu casar a filha Angelique com o médico Thomas Dicefoirus, sobrinho do Senhor Purgon, médico de Argan.
Na cena 5 do ato I, Argan ameaça pôr sua filha no convento se ela se recusar a casar com Thomas. Angelique é defendida por Toinette, a criada. Na primeira cena do ato II Cléante informa a Toinette que ele correu para tomar o lugar do professor de música para dar aulas a Angelique.
O que está em jogo na cena: Argan como personagem desconfiado, não faz ar de louco, por outro lado a obsessão por sua doença é interessante. É verdade que Argan está doente, mas sua obsessão é mental conhecida pelos médicos da época como hipocondríaca.
Em outra cena Toinette interrope os diálogos entre Argan e Cleante que não lhe diz respeito – aliás existem contrastes entre o ato I, no inicio Argan fala com Toinette encolerizado, já mais adiante, ele concorda com ela.
Primeiro o dialogo entre Toinette e Argan promete retardar uma informação inútil, (a chegada de Cléante). Depois a apresentação de Cleante a Argan e os efeitos do eco com o primeiro movimento.
Enfim uma dupla enunciação que persegue a terceira cena (dupla discursividade) com efeitos ironicos Toinette ensaia a ajudar a Angelique, mas Argan distancia por um pretexto: ele suspeita do professor de musica.
Toinette tenta contornar a cólera de Argan. Neste caso, Toinette está no centro da cena. Trata-se de uma personagem espiritual, jovial, insolente, manipuladora, e dedicada aos jovens apaixonados e sua felicidade de um lado é ajudá-los e de outro mostrar à Argan sua “loucura”. Para acolher bem Cléante, Toinette tenta amenizar a cólera de Argan. Desde o inicio da cena, Molière ridiculariza os médicos. O senhor Purgan prescreve exercícios a Argan... A personagem é marcada pelo excesso: egocentrismo (perdido em sua loucura), colérico, crédulo em relação aos médicos – faz um papel quase infantil.
A criada se intromete na conversa, tirando sistematicamente as palavras de Argan. Cléante desconcerta-se pelo jogo de Toinette e o expectador se diverte com a situação cômica.
De uma parte Toinette faz de trouxa o professor sem que ele perceba, de outra lado, Cleante admirado: por isso rapidamente cai apaixonado em uma casa de loucos.
Argam aprova então que ela venha gozar com a cara dele. Cleante descobre a mentira que ele preparou: ele se faz passar pelo substituto do professor de musica. Enfim no ato 3, inicio da cena com a réplica: fala alto chamando Angelique.

Considerações finais
Essa comédia-ballet se trata de uma critica de Molière aos médicos charlatães do século XVII que utilizavam de sangria para ‘curar’os possíveis males em seus pacientes, o que na realidade não era verdade, uma vez que, se tratavam apenas de um interesse social e econômico, e quando os pacientes morriam, esses médicos diziam se tratar de um mal incurável.

Referências
http://www.etudes-litteraires.com/moliere.php
http://www.site-moliere.com/bio/
http://www.toutmoliere.net/chronologie/index.html
http://doenteimaginario.sites.uol.com.br/moliere.htm

Tradução para dublagem e legendagem

Professora: Katiúscia Fernandes
Disciplina: Revisão e Editoração de Textos
Acadêmicas: Edna Bueno, Joana da Paz, Thayná Furtado
Data: 12 / 2008

A tradução para dublagem e legendagem, embora seja reconhecida como das melhores por diversos países, ainda sofre restrições em nosso país. Muitas críticas existem em relação ao assunto, porém, a maioria das pessoas ignora como é realizado o trabalho do tradutor. Portanto, esse trabalho vem esclarecer alguns pontos para dirimir algumas dúvidas que ainda circula o profissional.

Dublagem
Se deve respeitar a métrica, o movimento labial e a interpretação dos atores, o texto é dito de um modo que precisa ser muito natural. O dublador cede sua voz à interpretação, em idioma local de certo personagem, a fim de substituir a voz dos atores ou dubladores originais de filmes, animações, seriados, etc.

Particularidades na tradução para dublagem
O tradutor faz a adaptação da obra original ao idioma local, para ser utilizada pelo dublador.

Legendagem
Existem dois limites básicos – o número de caracteres que cabem na tela e o tempo de leitura necessário, proporcional ao número de caracteres. É calculado o número de caracteres da legenda de acordo com o tempo disponível. A boa legenda constitui uma forma de leitura que não desvie a atenção do espectador do filme e a ordem seja alterar o que se diz para tornar a mensagem mais simples; aliar precisão da informação, adequação do texto ao tempo de leitura, boa apresentação estética da legenda e estilo coerente com a fala original.
Legenda não deve ser produzida seguindo só o material-imagem, pois acaba realizando um texto que pouco combina com a cena em que ele se insere.

Particularidades na tradução para legenda
O material base normalmente é falado, caracterizado por elipses, anacolutos, hesitações, traços motivos e gestuais, sempre presente, configurando impressões paralelas ao que é dito.
Ritmo de fala e pausas retóricas tem que ser levadas em consideração.
Material ficcional, como filmes, seriados, não se pode perder de vista que cada personagem tem um jeito peculiar de falar, com competência lingüística diferente e, universo lexical apropriado à sua caracterização. O bom tradutor jamais esquecerá esses traços, para evitar a “pasteurização” de todas as falas, marcar e evitar em seu texto essa diversidade. Nesse sentido a tradução para legenda se aproxima da tradução literária.
O tradutor para legendas não pode perder de vista o caráter educativo que o seu texto apresenta, deve encontrar um equilíbrio entre a manutenção do coloquialismo e a competência discursiva do texto, assim garantindo o melhor produto final aos espectadores.
Além das limitações técnicas, que não podem ser burladas, sob pena capital para a qualidade final do produto “filme”, esbarra também na amplitude dos assuntos tratados. Dramalhões românticos, modernos e clássicos, filmes de máfia, de gangues negras, de gangues latinas, de esportes pouco praticados no Brasil, de brigas judiciais, dramas médicos, religião, filmes institucionais, técnicos... O tradutor de filmes encontra pela frente um pouco de muitas coisas, dos mais variados temas e áreas de conhecimento.
Há tipos de programação, principalmente os que envolvem transmissão de eventos, que não têm o roteiro, o que aumenta a possibilidade de haver erros de tradução. Dicção, sotaque, captação do som original, problemas de gravação, tudo isso dificulta o levantamento do texto e, por conseqüência, o trabalho do tradutor.
Traduzir para legendagem e dublagem é uma atividade que exige estudo e que se aprende com a prática, com muita transpiração e inspiração.
O fato de o Brasil ter uma das melhores dublagens do mundo tem também a contribuição de quem traduz.
As técnicas de tradução para legendagem e dublagem são muito específicas e muito diferentes entre si.

Trechos da entrevista sobre dublagem
Elaine Pagano, tradutora de Pokémon!
- Olá Elaine. Primeiramente obrigado pela entrevista. Pra começar, por que não se apresenta?

Olá, pessoal. Eu sou Elaine Pagano, tradutora para dublagem. Trabalho nessa área há 15 anos e gosto muito do que faço. Eu sempre gostei de assistir filmes e achava muito interessante como as pessoas conseguiam traduzir aquele filme ou desenho que eu estava assistindo, achava aquilo maravilhoso e resolvi estudar inglês, porque também adorava a língua, e em 1993, já com meu diploma embaixo do braço comecei a ir atrás dos estúdios de dublagem. (...) Durante esses 15 anos já traduzi muitas coisas como por exemplo: 24 horas, Pokémon, Bananas de Pijamas, Super Doll Lica-chan, Shin-Chan, Lost World (O Mundo Perdido), as novelas “Um amor de babá” (Record) e “Olhos d´agua” (Band), além dos filmes Dinotopia, Mentes Perigosas, Um drinque no Inferno I e II, A escolha de Sofia, Transamérica, etc... Nossa, foram centenas que eu não vou me lembrar de todos eles agora (risos).

- Vamos direto ao ponto. Como Pokémon caiu nas suas mãos?

Bom, logo que regressei dos EUA, minha 1ª casa foi na Parisi Vídeo, e na época eles dublavam “Pokémon” e “Yu-Gi-Oh!”, isso foi em 2002 [nota do editor: ano da dublagem do quinto ano de Pokémon]. Eles me passavam alguns episódios para traduzir, mas já existiam outros tradutores na casa que já faziam essas traduções, mas no Parisi eles não tinham o menor cuidado em deixar uma série com o mesmo tradutor, porque, sendo assim, o tradutor conhece os personagens desde o começo, sabe qual é a linguagem que determinado personagem usa, enfim, segue um padrão e o trabalho fica limpo, e também não tinham o profissionalismo de passar pelo menos um glossário para o tradutor sobre os golpes (no caso de Pokémon) ou sobre as cartas (no caso do Yu-Gi-Oh!), o tradutor tinha que se virar. Resultado: o tradutor que não sabia, traduzia a sua maneira, mais ao pé da letra, e acabava não dando muito sentido porque os diretores de dublagem também não se importavam muito com isso. Hoje em dia é diferente. A Centauro, que é a responsável pela dublagem do “Pokemon”, é uma empresa idônea, muito profissional e exige em 1º lugar qualidade e profissionalismo e oferece ao tradutor condições de trabalho para isso. Estou trabalhando com a Centauro há 3 anos e desde que cheguei lá e souberam que eu já havia feito alguns episódios no Parisi, imediatamente me passaram as séries por problemas com o antigo tradutor.

- Quais foram as dificuldades ao traduzir o oitavo ano de Pokémon, tendo em vista que a série tinha um tradutor fixo desde o terceiro ano?

Pois é, como eu disse, para um trabalho de série ficar perfeito é preciso acima de tudo entrosamento e profissionalismo entre as pessoas envolvidas, o que não aconteceu no 8º ano (que foi o meu 1º ano como tradutora Pokémon), uma vez que o antigo tradutor não me passou o glossário dos golpes e eu tive que fazer a tradução mais ao pé da letra e do que eu lembrava da época do Parisi(2002), foi muito difícil. A Centauro não teve culpa já que não tinha como fazer o ex-tradutor entregar isso.

- Qual sua posição sobre a ajuda que começou a receber a partir do nono ano? O que acha das séries que recebem ajuda de fãs na tradução e dublagem?

No 9º ano comecei a receber a ajuda do pessoal da “PokePlus”, que foi indispensável para a tradução ficar boa. Nada melhor do que quem conhece a fundo, curte e acompanha “Pokémon” para passar para o tradutor os nomes certos dos golpes. É indispensável a participação dos fãs! Gente, tradução é uma coisa muito pessoal, eu posso traduzir de uma forma e quem está assistindo ou lendo pode traduzir de outra e isso não quer dizer que esteja errado, é só a forma de colocar as palavras. Então, devemos esse título de 'Melhor Tradução e Adaptação' a vocês que me ajudaram a traduzir da melhor forma [nota do editor: A Elaine se refere ao primeiro lugar na votação popular de melhor tradução, que Pokémon ganhou com grande vantagem no "Oscar da Dublagem"].

- Levando em conta que recebemos muitos e-mails pedindo para usar nomes japoneses ao invés dos americanos, qual é o limite das mudanças que o tradutor pode fazer no texto?

Bom, gente, isso quem resolve é o cliente, é o distribuidor no caso, é ele quem determina o que quer, como ficarão os nomes. É ele também que escolhe as vozes que irão dublar tais personagens. Por exemplo, nomes de personagens nós, tradutores, não temos autorização para mudar.

- Acho que essa entrevista é ótima para justificar alguns erros que aconteceram na tradução. Os fãs querem saber: Por que o personagem Tracey foi considerado uma mulher? E como você lida com as críticas ao seu trabalho?

Vou contar um pouco da rotina do meu trabalho para vocês entenderam melhor esse processo. Eu recebo um script em inglês com os nomes dos personagens e suas falas e o vídeo que a Centauro me passa. Eu traduzo o texto e no final assisto ao episódio para ver se está tudo certo e se as falas que traduzi cabem na boca do personagem, já que temos que prestar atenção no “lip sinc” que é o sincronismo labial.
Especificamente no caso do Tracey: no script em momento algum especificava “he or she” [nota do editor: “ele” ou “ela” em português], eu não tinha como saber se era um personagem masculino ou feminino. Só nos últimos episódios foi que apareceu o personagem e vi que era masculino, mas desde o começo eles já haviam dublado como feminino e não dava mais para redublar, uma vez que os episódios já estavam no ar. Eu acho que as críticas são sempre construtivas, se são boas, ótimo, me sinto realizada, se não são boas, bom, vamos ver o que está errado para corrigir. O que me incomoda um pouco é o fato das pessoas não saberem qual o processo da tradução, da dublagem em geral, e começarem a falar mal sem pelo menos entenderem o porquê de tal erro ter ocorrido. Um dos maiores fatores para ocorrer algum erro é o fator tempo já que o cliente nos passa em cima da hora e quer tudo pronto para o dia seguinte. Tanto da minha parte como da parte da Centauro nós trabalhamos de maneira muito profissional e com muita responsabilidade e não queremos em hipótese alguma que haja nenhum erro.

- Você tem contato com a diretora da dublagem?

Tenho só quando há necessidade. Eu apenas faço a tradução e a diretora tem total autonomia para mudar a tradução como ela quiser, mas se ela muda alguma coisa do personagem eu sou avisada, caso contrário, eu continuo fazendo do mesmo jeito.

- Como que chega um episódio pra você e quais são os passos até o episódio voltar para a Centauro traduzido?

Eu recebo o script e o vídeo por e-mail, baixo o script, deixo baixando o vídeo que leva em média de 3 a 4 horas, (um episódio de 22 minutos) e vou traduzindo o script. Depois de traduzido, que também levo em média umas 4 horas para traduzir, eu acompanho o vídeo já com a tradução para ver o sincronismo, ver se está tudo certo, como no caso do Tracey, se ele já tivesse aparecido no desenho, eu saberia que se tratava de um menino e então eu teria corrigido, mas nesse caso específico ele só foi aparecer bem no final. Depois de revisado, eu envio a tradução por e-mail para a Centauro e daí é um outro processo até entrar no estúdio para a diretora gravar.

- Qual foi a série mais difícil de traduzir?

Eu acho que foi “24 horas”, tem muita fala, o tempo é muito curto e exige muita pesquisa porque usam termos muito técnicos.

- O que acha de Pokémon?
Um desenho como poucos hoje em dia. Ele mantêm o foco no valor da amizade, na perseverança e na motivação. Tem um pouco de humor com a Equipe Rocket e o Meowth falando suas bobagens e um pouco de emoção em cada episódio no sentido da amizade e nunca deixar seu amigo na mão. Um desenho que faz gerações se encontrarem. Como meus filhos de 7 e 11 que curtem de montão e o Fábio (Gajira) já com seus 20 e tantos anos que é fã incondicional (risos).

- Elaine, obrigado pela entrevista. Pra terminar, mande uma mensagem para o pessoal que visita a PokéPlus.

Eu quero muito agradecer a oportunidade de poder expor um pouco do meu trabalho que é feito com muita dedicação, atenção e carinho e só está ficando cada vez melhor e tenho certeza que ainda chegaremos à perfeição com a ajuda de todos vocês que colaboram com a tradução para que melhore cada vez mais e fica aqui o espaço aberto para as críticas e sugestões (se forem boas melhor ainda, risos). Conto com a colaboração de todos vocês, ok? Beijos a todos e continuem assistindo POKÉMON.

Considerações finais
Como acadêmicas do Curso Bacharelado de Letras Tradutor Francês/Português, este trabalho é de fundamental importância para o nosso aprendizado, ao fazê-lo, nos trouxe esclarecimentos importantes dentro da disciplina Revisão e Editoração de Textos, no que diz respeito à tradução na dublagem e na legendagem, sobre as técnicas e profissionalismo da área.
Contatamos que, sem formação e sem conhecimentos técnicos adequados não é possível fazer uma boa tradução.
Referências
GONÇALVES, Sônias. Dublagem e entrevista. Disponível em http://www.pokeplus.net/2008/07/dublagem-entrevista-com-elaine-pagano-tradutora-de-pokemon. Acesso em: 08 / 12 / 2008.
(setembro/2002)
SOARES, Danielle. Legendagem e dublagem. Disponível em http://www.abrates.com.br/abreartigo.asp?onde=Tradu%C3%A7%C3%A3o%20para%20Dublagem%20e%20Legendagem.abr. Acesso em: 08 / 12 / 2008.
(outubro/2002)
TEIXEIRA, Leonardo. Tradução para dublagem e legendagem. Disponível em http://www.abrates.com.br/abreartigo.asp?onde=TRADU%C7%C3O%20PARA%20LEGENDAGEM%20CONSIDERA%C7%D5ES.abr. Acesso em: 08 / 12 / 2008.