segunda-feira, 21 de julho de 2008

PÓS-MODERNISMO EM CLARICE LISPECTOR CRÔNICA “SE EU FOSSE EU”

Professor: Francesco Marino

Disciplina: Literatura Brasileira III

Acadêmicas: Adriana de S. Negreiros, Delta Brito,

Edna Bueno, Joana da Paz, Thayná Furtado

Data: 16 / 05 / 2008

“Nasci para escrever. Minha Liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo.”

Clarice Lispector. (1926 – 1977)

PÓS-MODERNISMO EM CLARICE LISPECTOR CRÔNICASE EU FOSSE EU

INTRODUÇÃO

Passados mais de 50 anos, pela terceira vez no século XX, as letras brasileiras apresentaram novo ciclo de renovação, tanto na prosa quanto na poesia, expressando o estilo personalista de cada autor.

A partir de 1945, surge uma geração de escritores que inaugura uma nova etapa na historia do Modernismo. Esse período é chamado de pós Modernismo. É difícil descrever todas as correntes literárias contemporâneas, mas, podemos apontar tendências que nos possibilitem a compreender os caminhos trilhados pela prosa desde a segunda metade do século XX.

Essa Característica é bem visível nas obras de Clarice Lispector, a princípio, destaca-se o interesse pela analise psicológica das personagens, onde leva a autora à uma abordagem profunda em razão dos problemas gerados pelas tensões existentes entre o individuo e o contexto social.

CONTEXTO HISTÓRICO

Com o final da Segunda Guerra Mundial, a abertura política que se seguiu propiciou a convocação de eleições diretas. Embora sua situação não fosse das melhores, Getúlio Vargas se opôs à iniciativa, mas, acabou deposto pelas próprias forças conservadoras que o elegeram. Eurico Gaspar Dutra venceu as eleições, e promulgou uma nova Constituição em 1946.

Enquanto isso iniciava a Guerra Fria entre o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco comunista, liderado pela União Soviética. No Brasil, o partido comunista foi cassado, com base num artigo da constituição que proibia a existência de partidos contrários aos direitos de liberdade do homem e contra o pluripartidarismo. Por outro lado, a política liberal de Dutra viu esgotadas as divisas em virtude da exportação dos produtos brasileiros durante a Guerra e, por esta razão a inflação subiu assustadoramente, enquanto o salário não conseguia alcançar o mesmo ritmo.

Getúlio Vargas aproveita esse momento e apoiado por Ademar de Barros, retoma o poder em 1951. A situação do país era gravíssima. A inflação subia cada vez mais e por mais que Getúlio fizesse – tomando decisões impopulares -, de nada adiantou então o descontentamento cresceu e 27 generais do Exército assinaram um documento declarando vago o cargo de presidente, vendo-se pressionado Getúlio Vargas termina se suicidando.

O desafio que se coloca para os escritores das décadas de 40 e 50 é a pesquisa estética e a renovação das formas de expressão literária, tanto na poesia quanto na prosa. O período era muito rico para a prosa brasileira, que conta com a publicação de várias obras significativas, principalmente nos gêneros Conto e Romance, como observados em Clarice Lispector e Ligia Fagundes Telles. O regionalismo fartamente explorado na geração de 30, também é retomado por autores como João Guimarães Rosa e outros que procuram dar um tratamento renovado, como também a representação do espaço urbano pelas crônicas de Rubem Braga, contos de Dalton Trevisan, Clarice Lispector e Ligia Fagundes Telles.

BIOGRAFIA

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia no dia 10 de dezembro de 1925, no conturbado período pós-revolução russa. Sua família era judia e tentava escapar da perseguição a seu povo. Aportaram em Maceió (AL), e lá permaneceram quase três anos. O dia-a-dia era duro. Seu pai, trabalhando como mascate, ficava longe da família. A família movida pelas urgências da necessidade, não se deu ao luxo de crises de adaptação. Até suas identidades foram rapidamente transfigurada por uma familiaridade idiomática. O pai, ‘Pinkouss’, Virou ‘Pedro’; a mãe, ‘Mania’, ‘Marieta’; sua irmã Léia, de 09 anos, tornou-se ‘Elisa’; e Tânia de 5, foi a única a manter o prenome. A própria Clarice era originalmente “Haia”. Dona Marieta foi acometida por uma paralisa o que obrigou a mais velha, Elisa a assumir as responsabilidades domestica.

Depois, transferiram-se para o Recife (PE), onde a autora passou a maior parte da infância e o inicio da adolescência. Nessa cidade apaixonou-se pelos escritos de Monteiro Lobato, um dos primeiros autores a fasciná–la. Em 1935, a família foi para o Rio de Janeiro, e lá Clarice cursou direito na Faculdade Nacional da Universidade do Brasil, neste mesmo período começou a trabalhar dando aulas particulares e fazendo traduções. Depois trabalhou como jornalista e deu início em sua carreira literária. Em 1944 casou com o diplomata Maury Gurgel Valente e foi viver fora do país, porém em 1959 separou-se e retornou ao Rio de Janeiro com os dois filhos, Pedro e Paulo. À 09 de dezembro de 1977, Clarice morreu de câncer.

OBRAS:

Romances.

_Perto do Coração Selvagem (1944)

_O Lustre (1946)

_Cidade Sitiada (1949)

_A Moça no Escuro (1961)

_A paixão Segundo (1961)

_Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres (1969)

_Água Viva “ficção” (1973)

_A hora da Estrela (1977)

CONTOS

_Alguns Contos (1952)

_Laços de Família (1960)

_A Legião Estrangeira (1964)

_Felicidade Clandestina (1971)

_A Limitação da Rosa (1973)

_A Via Crucis da Rosa (1974)

_Onde Estiveste de Noite (1974)

_A Bela e a Fera (1979)

CRONICAS

_Visão de Esplendor (1975)

_Para não Esquecer (1978)

_A Bela e a Fera (1978)

LITERATURA INFANTIL

_ O Mistério do Coelho Pensante (1967)

_A Mulher que Matou os Peixes (1969)

_A Vida Intima de Laura (1974)

_Quase de Verdade (1978)

CARACTERISTICAS GERAIS

A prosa intimista, de investigação psicológica, intensifica-se, ganhando sua maior expressão na obra de Clarice Lispector, com seu estilo único e a sua linguagem - a principio ‘estranha’-, expressa o óbvio. Utiliza-se de metáforas e o seu modo pessoal de estruturar a frase ou o discurso se evidencia a todo o momento, principalmente ao organizar sintaticamente certos aspectos da enunciação, fazendo com que o leitor busque compreender o seu significado e até mesmo se auto-analisar. Observa-se ainda que a autora tinha como técnica a repetição de palavras e frases inteiras como” Se eu fosse eu”. Na verdade Clarice Lispector introduziu em nossa literatura novas técnicas de expressão que obrigavam a uma revisão de critérios avaliativos, quebra a seqüência “começo, meio e fim”, assim como a ordem cronológica ao fazer uso constante de imagens, metáforas, antíteses, paradoxos, símbolos e sonoridades.

OBRA PARA ANÁLISE

Se eu fosse eu

Clarice Lispector

Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase “se eu fosse eu”, que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir.

E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou se ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida. Acho que eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.

Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.

“Se eu fosse eu” parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova do desconhecimento. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.

ANÁLISE DA OBRA

A crônica “Se eu fosse eu” de Clarice Lispector, foi publicada, pela primeira vez, em novembro de 1968. É de caráter psicológico, onde a autora usa o fato externo, onde reflete sobre si mesma e toma consciência do seu próprio eu.

A narrativa é, portanto, na primeira pessoa: “Se eu fosse eu e tivesse um papel importante...”. No desenvolvimento, a autora passa a usar a primeira pessoa do plural, incorporando o leitor ao processo narrativo: A mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida”.

Desde sua primeira obra, “Perto do Coração Selvagem”, percebe-se logo na autora, o esforço em querer atingir as camadas mais profundas da consciência humana, em um mergulho psicológico pouquíssimas vezes tentado em nossa literatura. Em Clarice Lispector se percebe em seus contos e romances, o interesse primordial não se encontra no desenvolvimento do enredo, mas no estudo da expressão que os fatos têm sobre a consciência dos personagens. É uma obra introspectiva, que sonda o interior do ser humano para revelar suas dúvidas e inquietações.

Como podemos observar, um simples fato corriqueiro pode acarretar em inúmeras indagações na autora/narradora. O ponto considerado importante de inicio, passa a ser secundário para dar ênfase maior ao seu próprio “eu”, quando ela indaga a si mesma: “Se eu fosse eu...”, em uma demonstração de que se vive mais de aparências, de convenções sociais pois caso contrario, não seria vista com bons olhos pela sociedade. E quando Clarice faz esses questionamentos, induz o leitor a também se questionar e penetrar no labirinto de sua própria subjetividade e levá-lo a refletir, filosoficamente, sobre sua verdadeira identidade e sobre sua atuação no mundo.

A autora emprega uma linguagem simples e objetiva que mesmo com a interrupção, objetivando atingir o leitor, de modo algum quebra a unidade da narrativa, muito pelo contrario, dá-lhe mais dinamismo, visto que o leitor se vê obrigado a fazer parte se suas propostas.

Quando muda o foco narrativo, que passa da primeira pessoa do singular para a terceira pessoa do plural, contribui para dar ao texto um caráter coloquial, bem mais vivo e natural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ler os textos de Clarisse Lispector é penetrar num mundo entre a palavra e o silêncio, entre o que se diz e o que está implícito ao dizer. Se quiser entender seus textos, deve se interrogar também no silêncio. Como já dizia o russo Chklovski: “a arte provoca um estranhamento em face da realidade”. A viagem pela introspecção psicológica da personagem faz com que o leitor tenha pleno domínio da situação, quebrado pelos limites espaço - temporais que tornam a obra verdadeira de forma que os sentimentos misturam–se. Nesta obra em especifico, a autora retrata que o ser humano vive sobre mascaras, numa sociedade cheia de convenções, que prende o verdadeiro EU, como se a pessoa estivesse interpretando uma personagem e não se mostrando de fato com seus anseios e desejos. Com muita coragem, Clarice assume sua verdadeira essência, sua face, quando chega a assumir que se estivesse inteira, chegaria até a ser presa e convida o leitor a fazer uma auto-avaliação de sua própria essência.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS

ACHCAR, Francisco, ANDRADE, Fernando Teixeira de, SANTANA, Iraci Nogueira. Os livros da FUVESTE – II. São Paulo. Editora SOL, 2005.

OLIVEIRA, Clenir Bellezi de. Literatura sem segredos, volume 13, editora educacional 1ª edição, São Paulo, 2007.

CEREJA, Willian Roberto; MAGALHÃES, Thereza Analia Cochar. Literatura Brasileira: 2º grau.São Paulo: Atual, 1995.

Apostila O novo Telecurso língua e literatura, Globo, 1987.

_______________________________________________

delta.brito@bol.com.br

french-e@hotmail.com

jp.smay@hotmail.com

thaynafurtado13@bol.com.br

2 comentários:

Thayna Furtado disse...

trabalho legal de fazer!!

muito interessante e bem feito esse trabalho!

Unknown disse...

Qual foi a escola literária da Clarice Lispector?