domingo, 25 de janeiro de 2009

Estilística da Palavra: Conceito, Palavras Gramaticais e Palavras Lexicais

Professora: Mara Regina
Disciplina: Língua Portuguesa V - Estilística
Acadêmicas: Edna Bueno, Francys Tavares, Joana da Paz
1º. Semestre 2008
“Entre os indivíduos, não há nada mais relativo do que a amizade. Raramente existe. E quando existe, desaparece logo diante do interesse.”
Alcântara Machado

INTRODUÇÃO
Segundo Nilce Sant’Anna Martins, a estilística léxica ou da palavra estuda os aspectos expressivos das palavras ligados aos seus componentes semânticos e morfológicos, os quais, entretanto, não podem ser completamente separados dos aspectos sintáticos e contextuais.
Os atos de fala resultam da combinação de palavras segundo as regras da língua. Só teoricamente se separa o léxico e a gramática visto que, mesmo as palavras que têm um significado real, extralingüístico, só funcionam no enunciado com a agregação de um componente gramatical.
Há dificuldade em precisar o conceito de léxico. O léxico pode ser conceituado de três maneiras: Conjunto de morfemas de uma língua; Conjunto de palavras de uma língua; Conjunto de unidades ou palavras de classe aberta de uma língua.
As palavras gramaticais são pouco numerosas, mas de altíssima freqüência nos enunciados, desempenhando funções de grande importância. Sua função pode estar relacionada com o ato de enunciação, com a organização do discurso ou texto, ou com a estruturação da frase: substituir ou referir algum elemento presente no enunciado, atualizar os nomes, transformando-os de elementos do paradigma ou palavras de dicionários em termos da frase, indicar quantidade e intensificação, relacionar palavras no sintagma, estabelecer coesão textual, seja dentro de uma frase, seja entre frases diversas.
As palavras lexicais, também chamadas lexicográficas, nocionais, reais, mesmo isoladas, fora da frase, despertam em nossa mente umas representações. Diz-se que elas têm significação extralingüística ou externa.

1. A ESTILÍSTICA DA PALAVRA
1.1 Conceito
A estilística da palavra estuda seus aspectos expressivos ligados a seus componentes semânticos e morfológicos, e que não podem ser separados dos aspectos sintáticos e contextuais. Segundo as regras da língua os atos da fala fazem combinações de palavras. Na teoria é separado o léxico e a gramática, mesmo que as palavras tenham um significado extralingüístico elas funcionam com a associação de um componente gramatical.
Há dificuldades em se conceituar o léxico, Josette Rey-Debove em “Lexique et dictionnaire – Le langage” diz que o léxico apresenta-se de três modos.
Conjunto de Morfemas: sendo que as unidades significativas são mínimas, presas ou livres, podendo ser lexical ou gramatical. Os lexicais (radicais, semantemas, lexemas) são de classe aberta podendo ter acréscimos ou perdas, já os gramaticais (gramemas) são fechados e restritos. Este conceito é raro aceita-lo, pois a frase é formada de unidades codificadas altas que se combina com dois ou mais morfemas.
Conjunto de Palavras: Palavra é a forma livre que não pode ser dividida em formas livres menores; uma forma livre mínima pode atuar como elocução completa. Este conceito decorre a divisão das palavras em lexicais e gramaticais, das quais se encontram em dicionários, outra questão é se formas livres mínimas gramaticais podem ser consideradas palavras uma vez que elas não podem atuar como elocução completa.
Conjunto de Unidades ou Palavras de Classe Aberta: essas unidades são os morfemas lexicais ou as palavras lexicais. Esse conceito exige que os conjuntos abertos e fechados fossem exatos.
Como não se apresenta uma conceituação precisa sobre o léxico, considera-se o conceito (2) empregado no seu uso de comum, mesmo sendo criticada por lingüistas por ter o rigor cientifico. Mattoso diz que o vocábulo distingue-se em lexical (semantema) e gramatical (morfema).
Nos estudos da linguagem há duvidas quanto ao termo e não apresenta um rigor na expressividade, subjetividade, poeticidade, desvio de norma, conotação e outros. Só resta tentar compreender esses fenômenos sem que se possa ter definição e classificação. Aqui serão focalizadas as possibilidades expressivas da língua em espécies gramaticais e lexicais, ou seja, os valores que se sobrepõem sob a comunicação racional, lógica, de fatos ou idéias.

2. PALAVRAS GRAMATICAIS
Empregam-se além das denominações (morfemas, gramemas), as Palavras-formas, palavras vazias e instrumentos gramaticais. O significado de palavras gramaticais é entendido no contexto lingüístico, por esse motivo diz-se intralingüístico. Pode ser também palavras sinsemanticas porque são significativas quando estão acompanhadas por outra que é o oposto da autossemanticas (lexicais) que tem seu próprio significado. São poucas as palavras gramaticais, mas, no entanto são freqüentes nos enunciados, obtendo importantes funções que serão enumeradas sem muito rigor e exaustividade. A função pode relacionar-se com a enunciação, organização do discurso ou do texto ou ainda com a estrutura da frase. Servindo para:
- Relacionar o enunciado com a enunciação, mostrando aos participantes da comunicação o espaço e tempo que ocorre. São dêiticos (eu, tu e suas variantes aqui, aí, agora, possessivos e demonstrativos referentes a 1° e 2° pessoa, etc.);

- Substituir ou referir algum elemento no enunciado. São Anafóricos (ele, demonstrativos não relacionados a 1° e 2° pessoas, etc.);
- Atualizar os nomes, transformar palavras de dicionário em termos da frase. São os determinantes, por exemplo: artigos, pronomes, adjetivos, numerais;
- Identificar quantidade e intensificação (numerais, pronomes indefinidos quantitativos, advérbios quantitativos);
- Estabelecer coesão textual, seja dentro de uma frase ou em frases diversas (anafóricos, conjunções);
O emprego das palavras gramaticais estão na sintaxe e na organização textual, pode seguir regras fixas ou não. Podendo ocorrer alterações ou ate violar uma regra na expressão. Em certos empregos as palavras gramaticais perdem o seu valor e assim tornam-se um elemento de realce ou ate receber o valor das palavras lexicais, assim como pode ocorrer o inverso, uma palavra lexical pode vir a perder seu valor e tornar-se uma palavra gramaticalizada. Neste tópico será explicado os valores expressivos de palavras gramaticais para não tornar-se exaustivo, já que, alguns gramáticos chamam atenção para diversos empregos de palavras gramaticais, é o caso de Rodrigues Lapa em “Estilística da língua portuguesa” que expressa diferentes classes de palavras.
Said Ali tenta explicar o emprego de partículas como: mas, então, agora, sempre, afinal, pois, pois sim, pois não, se, etc., com valor diferente do gramatical. O autor explica essas expressões como á parte informativa capaz de conseguir um intuito que as palavras formais não conseguem. Outros casos de palavras gramaticais que tem o valor de realce são os advérbios cá, lá, aqui, destacado como formas pronominais:
Lá com cunho negativo: “sei lá o que ele quer”.
Ou com cunho concessivo: “vá lá que ele não ajude, mas também não atrapalha”
Ali como expressão enfática: “feia até ali. Coitadinha!”

O processo de nominalização permite transformar um vocábulo em substantivo, faz de palavras gramaticais em palavras lexicais de cunho afetivo. Por exemplo :
• O “eu” como significado complexo:
“Nosso eu maravilhoso”
• O “eu” como pronome substantivo:
“Um dia conversei com meus mortos
E todos os que morri (os eus que eu fui)
Reunidos inquietos sôfregos cada qual com um meu rosto na mão
Contarão (sua) a minha historia
Cassiano Ricardo

• O “não” substantivado substitui o valor de negação por um valor adverbial,
Vejamos:
“Seu não irredutível deixou-me decepcionado”.
• Artigo anteposto às palavras gramaticais
“Os alguns faltavam dos que eram para se reunir ali...”
• O “cujo” em norma culta é pronome relativo, mas quando substantivado com tom pejorativo é popular:
“Certa ocasião, passava eu na fazenda do Pedrinho; quando apareceu por lá o Joãozinho Cigano – botaram esse apelido no cujo, á toa não foi...”
• O “cujo” é empregado como vocativo em referencia a um animal:
“Fecha essa queixada, cujo, que isto não é comida, não, é freio.”
• Pronomes neutros com tom depreciativo referentes a pessoas como tudo, isto, isso, aquilo:
“Hoje é essa meninada que a gente vê – e tudo atrás de sinecuras.”
• De acordo com o contexto e a entoação o pronome “isto” pode ter valor de enaltecimento:
“_ Isto, rapazes, é fidalgo que, quando um pobre de Cristo escalavra a perna, lhe empresta a égua, e vai ele ao lado mais duma légua a pé, como foi com o Solha! Rapazes! Isto é fidalgo para a gente ter gosto!”
• Também substantivado “isto”, assume a noção de quantidade, grande ou insignificante:
“E Paulo teve de contar a historia toda, a luta com o surubim, o upa até dar com ele na canoa, o isto de piranha que ajuntou.”
• “Alguém” perde seu caráter indefinido e ganha conotação valorizadora na expressão “ser alguém na vida” podendo ser usada de forma indireta dirigida a uma pessoa presente:
“Alguém vai me emprestar um dinheirinho...”.
• Artigos e alguns pronomes adjetivos podem ter sentido de modificador do substantivo. Neste caso com artigo indefinido são comuns construções em que esta implícito um adjetivo intensificador:
“Foi de uma audácia!”
• Artigo definido pode se formar um sintagma com expressão adjetiva superlativa latente:
“Ele é o Professor!”
• Pronomes que assimilam um termo caracterizador, tais como: cada, tal, que, aquele e outros;
“Você arranja cada negocio!”
“Disse tais tolices!”
“Que dia, meu Deus!”
“Aquela mulher!”
• Demonstrativo equivalente ao artigo enfático:
“Índia pataxó, aquela mãe que tem, capaz de todas as raivas”.
• Palavras nocionais gramaticalizadas com redução do valor conceitual como nexos comparativos:
“Os [namorados] daqui ficam só de mãos dadas, feito uns santos...”
“E o pezinho calçado de branco era um sapato de cetim escritinho.”

3. PALAVRAS LEXICAIS
As palavras lexicais também chamadas lexicográficas mesmo fora da frase, despertam na mente uma representação. Elas têm significação extralingüística que remetem algo que está fora da língua. São numerosas e indetermináveis, pois constantemente se formam novas palavras.
Exemplo:
Determinar - Indeterminável
Feliz – Infelizmente
Total - Totalmente
Ou são emprestadas palavras de outras línguas.
Exemplo:
“Edna ganhou uma bijou linda”
“Comi dois hambúrgueres”
Também ocorre quando deixam de ser usadas, ficando apenas no dicionário.
Exemplos:
“Guardei os copos no pitisqueiro”
“Maria fica matutando no mesmo assunto”

Na constante renovação de léxico é que as palavras lexicais se dizem de inventario aberto. São palavras lexicais: substantivos, adjetivos, advérbios derivados ou correspondentes e verbos de ação. As palavras lexicais não entram no discurso, mas são investidas de uma função sintática sendo acompanhadas de gramemas (desinências flexionais de numero, gênero, pessoa, tempo e modo) muitas delas são usadas como afixos. Quando a noção gramatical não corresponde à forma lingüística se diz que tem morfema zero. Sabe-se que os morfemas são necessários para o relacionamento das palavras, sendo a colocação considerada também um morfema posicional.
Quanto á significação das palavras Tatiana Slama – Cazacu faz uma distinção entre o significado e o sentido. O significado existe na palavra pertencente ao léxico da língua: ele é necessário e muito importante do sentido. O sentido é, pois, a realidade que aparece na pratica da linguagem, como fato complexo e variável: ele depende dos diversos aspectos da personalidade d cada um e pode variar em diferentes momentos. O sentido é denotativo quando designa determinado ser, ação, circunstância, qualidade, com valor exclusivamente referencial. É conotativo quando contém algum valor particular, subjetivo.

- Sentido denotativo: termo concreto

“O cavalo é um animal bonito”
“Aquele pangaré não corre mais”
“O gato branco sujou-se na lama”
“A rosa é a flor que representa o amor”

- Sentido conotativo: termo abstrato

“Seu irmão comportou-se como um cavalo”
“Você parece um pangaré abandonado”
“O namorado da minha amiga é um gato”
“Sua mãe é uma flor”

De acordo com a autora a “palavra é um signo sonoro, que contem um núcleo significativo, que se atualiza e se completa pelo seu aparecimento em um conjunto de linguagem concreto. As palavras exprimem a realidade justamente porque podem moldar ou completar o significado conforme a situação”.

4. CONCLUSÃO
Conclui-se que a estilística da palavra tem um valor fundamental na gramática normativa. Pois ela estuda o emprego especifico e as ocorrências em que se dão ao emprega-las dentro de um enunciado. Há ocasiões em que se pensa estar errado algum seguimento da frase de um texto, é neste momento que a estilística da palavra age, pois ela explica o que ocorre dentro da língua e o efeito que ela surte.
Quanto ao estilo, cada indivíduo apresenta o seu valor característico particular na elocução. Nos textos literários por exemplo, nem sempre a linguagem apresenta um único sentido, aquele apresentado pelo dicionário. Empregadas em alguns contextos, elas ganham novos sentidos, figurados, carregados de valores afetivos ou sociais.

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
MARTINS, Nilce Sant’Anna. Introdução à estilística. 3° ed. São Paulo. T.A.QUEIROZ, 2003.

REFERÊNCIA ONLINE
acessado em 04 de Abril de 2008 às 15h00min.
http://www.metodista.br/biblioteca/abnt/abnt#folha-de-aprova-o-obrigat-rio

8 comentários:

Tatiana disse...

olá, tudo bem? também sou formada em Letras (lingua inglesa e portuguesa) . Adorei essa postagem , obrigada pela resenha .

quando der passe em meu blog !

Joana da Paz disse...

Olá Tatiana, obrigada por acessar o Acadêmica de Letras - Eterna Estudante.
O objetivo é compartilhar meus conhecimentos.
Quando for possível faça uma visita no Blog Quiosque de Letras - Eterna Estudante:http://j-p-s-ltf-eterna-estudante.blogspot.com (Literatura amapaense ainda em construção).
Aguardo sua visita!!!
Um abraço!!!

Katia disse...

Olá, Da Paz!
Gostei muito. Principalmente do seuestilo.
Parabéns!

Katia disse...

Olá, Da Paz!
Gostei muito de seu comentário, acerca da estilística. A forma como você se colocou.
Parabens!

Joana da Paz disse...

Olá Kátia!
Espero ter contribuido com sua pesquisa.
Quando for possível faça uma visita no Quiosque de Letras - Eterna Estudante http://j-p-s-ltf-eterna-estudante.blogspot.com
Venha conhecer um pouco da Literatura amapaense!
Obrigada pela visita!

Um abraço!

Joana da Paz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ducyaju disse...

Eu sou estudante de letras to no 4º período e to com dificukdade em uma disciplina que é lingua portuguesa II, ta mi tirando o sono ; O assunto é garmemas determinantes , gramemas substituto etc. o asunto é horrivel eu estudo mas quando chega a prova não faço nada estou desesperada, podem me ajudar?

Unknown disse...

Mas que nome mais a propósito...
Da Paz, pra pacificar o entendimento da linguagem!! Maravilhoso o teu trabalho, amigaa!! PARABÉNS!!
Professor Deschamps